segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A terra após o terramoto



                                                        Lisboa, terramoto de 1755                            



Mantenham a calma. Não é realmente de um terramoto como fenómeno de vibração brusca e passageira da superfície terrestre que aqui se tratará. Aqui é usada a alusão ao fenómeno geológico como metáfora ao abalo e agitação social causados em determinados momentos na vida em sociedade por acontecimentos específicos que instauram uma ordem ou desordem específica nas nossas relações. Como tal fazer a análise a esses acontecimentos só é possível de forma devidamente clara e distanciada (em termos de julgamento) após a agitação, isto é, quando já terramoto terminou a sua acção e podemos então levantar os “escombros” e ver o que estes escondem por de entre a poeira acumulada. 

Falo, objectivamente, das eleições autárquicas em Cabeceiras de Basto da qual se apuraram os resultados no último dia 29 de Setembro. A metáfora empregue assenta como luva no referido acontecimento eleitoral pelo alvoroço e expectativa que em especial estas autárquicas despoletaram. Fora uma ausência de modéstia ou qualquer parcialidade de que me possam acusar, penso ser inevitável considerar que a agitação se deveu à presença de um agente que até aqui não tinha entrado em cena – a candidatura de um movimento independente.

O movimento de cidadãos Independentes por Cabeceiras oficializou a sua candidatura em Abril de 2013 e nos cinco meses de existência através de uma campanha que instaurou sobretudo uma lufada de ar fresco no incentivo à cidadania participativa conseguiu um resultado de 4535 votos para a Câmara Municipal e a conquista da presidência de duas Juntas de Freguesia ( Cavez e Pedraça). No entanto estes números surpreendem pouco quando enunciados isoladamente. Ora vejamos, o que é verdadeiramente novo e surpreendente é o efeito desta candidatura nos resultados das outras forças políticas, em especial no resultado do Partido Socialista e no resultado da coligação PSD.CDS-PP. 

Em relação a 2009 o Partido Socialista perdeu a maioria absoluta, isto é, em termos absolutos 2767 votos que se traduz em queda de 36% e que dita uma perda de dois vereadores em relação aos cinco conseguidos em 2009. Quanto à coligação Cabeceiras + Futuro, perde 1501 votos, isto é, uma queda de 52% em relação a 2009 e menos um vereador.

A análise desta “terra” politica após o “terramoto” eleitoral redunda, por mais voltas que déssemos sobre postulados de teoria politica em duas conclusões: em primeiro lugar na eficácia da estratégia adoptada na campanha pelo movimento de cidadãos IPC que se dirigiu de forma muito vincada desde o início em ouvir e dar voz ao cabeceirenses e em segundo lugar a uma mensagem de claro desagrado por parte dos eleitores quanto aos partidos políticos e à centralização inerente à própria estrutura. É certo que a conjuntura nacional poderá ter tido efeito nesta desacreditação dos partidos junto da população mas não creio que esse factor tenha sido preponderante aqui, em Cabeceiras de Basto.

Aposto antes em dois outros factores: por um lado a nomeação em processo obscuro de Serafim China Pereira como candidato à Câmara Municipal pela comissão politica concelhia do Partido Socialista (ou talvez da vontade imposta por uma pessoa só); e por outro lado na ausência de um candidato da coligação Cabeceiras + Futuro com força suficiente para gerar à sua volta um ambiente de alternativa e uma real possibilidade de vitória. 

Para além disso, ressalva-se a ausência de maioria para o Partido Socialista que se vê implicado na necessidade, inédita, de negociação com a oposição. Sob os ombros Serafim China Pereira, que em breve tomará posse como Presidente de Câmara, carrega essa responsabilidade de diálogo com a condicionante de que representa uma força politica que se caracteriza por uma ausência de cultura politica nesse sentido, e que até por vezes se tornou símbolo de autoritarismo na figura do Presidente em cessação de mandato. Tudo isto envolto numa conjuntura de profundo desemprego, em aumento das desigualdades sociais, num contexto de envelhecimento populacional e na fuga para o litoral e estrangeiro de jovens cada vez mais qualificados. É, portanto, imperativo o diálogo e a estruturação de um plano de desenvolvimento regional que tenha como principal objectivo o crescimento económico. Porque sem economia todos os indicadores acima se agravarão. Veremos com que diálogos e silêncios se revestirá este mandato. Mas veremos, acima de tudo, que “terramotos” se darão sob nossos pés. Aqui estaremos, atentos, a aguardar.

1 comentário:

Hermes Trimegisto disse...

O PS Cabeceiras, como dizia alguém, "escachou" ao meio! O egocentrismo do anterior edil caiu por terra, e com ele desabou todo o edifício de uma governação construída em cima do culto da personalidade, do quero posso e mando, do servilismo gangrenado, da perseguição política, do dividir para reinar, etc, etc. Na noite de 29/09 JB era a imagem de um homem derrotado, apesar de ter vencido as eleições. Caiu o mito do grande líder! No seu âmago, JB sabia que não foram os 400 votos que o tornaram vencedor...mas sim a campanha oculta dos cabazes de natal, dos empregos arranjados à força, ou da sua promessa, da coação pura e dura! Realmente, tinha razões para estar abatido!