quarta-feira, 15 de outubro de 2014

boca de urna*

A história do "primeiro turno" nas eleições brasileiras de 2014, resume-se à esquerda na vitória do Partido Comunista do Brasil que elegeu pela primeira vez um governador, neste caso, no Maranhão. De resto, do que se sentiu dos resultados e no que se vai sentindo nas ruas, sobretudo em São Paulo, é uma grande rejeição ao PT. Podia ser pelas características mais conservadoras da capital paulista, esta cidade vota mais tradicionalmente à direita, mas a verdade é que os trabalhistas nunca previram que pudesse Dilma ser rematada para terceiro lugar, com Aécio a angariar quase 75% dos votos nos bairros mais ricos.

No total do país, é certo e sabido que Dilma ganhou a primeira volta (44%), mas Aécio Neves com 35% conquistou o Sul e Sudeste (onde ficam os grandes círculos eleitorais). Os 20% dos votos da Marina Silva, que já declarou apoio ao candidato "tucano" (alcunha atribuída aos membros do Partido Social Democrata do Brasil - PSDB) podem ser mesmo assim distribuídos pelos dois candidatos. A actual "presidenta" parte da pole position, e a previsão é vá buscar grande parte do restante eleitorado no Nordeste e estados do interior brasileiro, onde a pobreza é grande e as políticas sociais dos governos de Lula fizeram grande diferença.

Já Aécio, deve tomar maior parte da fatia em São Paulo e outros estados do Sudeste, com excepção do Rio de Janeiro, tradicionalmente mais "petista". Tudo dependerá onda de vitória, do funcionamento do aparelho e da performance nos debates, onde a Dilma é claramente menos preparada. Na última semana foi-se acentuando o discurso do medo no interior dos trabalhistas junto da classe média e baixa, pelo risco de "retrocesso" social que pode representar a vitória de Aécio Neves. Algo que, para quem vê de fora, parece uma jogada desesperada para os apoiantes dos governos de Lula e Dilma. É por demais evidente que, não sendo um governo suficientemente de esquerda para alguns brasileiros nem radical como o parece para outros tantos, o melhor governo da democracia no país irmão deixou uma imagem positiva do Brasil no mundo.Mas para muitos, doze anos é tempo suficiente.

Prognósticos? O Lula vai teria de suar mais para manter a sua "mulher" no poder, mas o ex-presidente está menos activo na campanha do segundo "turno". Dilma parece sozinha e aos papéis, dependendo a sua vitória do seu fiel aparelho e eleitorado. Já o neto do Tancredo Neves, Aécio, é bem capaz de ganhar da eleições, levado pela necessidade de uma lufada de ar fresco. A economia, está a crescer menos, arrisca a estagnação, os juros estão altíssimos e não há muito investimento privado. Ironicamente, no Brasil como Portugal, o povo saiu às ruas para pedir mudança, mais investimento do Estado na Educação, Saúde e direitos sociais, mas arrisca-se a eleger um governo de direita. Uma das grandes tragédias da esquerda é que muito do seu povo, do seu eleitorado, quando deixa de ser pobre, esquece que um dia já foi pobre, até que empobreça de novo. Uma coisa parece certa, ganhe quem ganhar, no dia 26 de Outubro sairá das urnas um Brasil dividido em dois.

*Boca de urna é um conceito relativo a distribuição e/ou veiculação de propaganda política no dia da eleição, sendo considerada um delito eleitoral no Brasil.

1 comentário:

Anónimo disse...

A mentalidade política é igual em todo o lado!!