Não que não seja um Domingo de Abril como os outros, de muitas e quantas caras que faz, mas hoje é sobretudo mais um daqueles dias em que qualquer coisinha se pode tornar o bater de asas do Efeito Borboleta, em escala europeia pelo menos. A Itália e um dos guardiães do mercantilismo desta Nova Europa, vão a votos. Em causa, mais que um governo de um magnata excêntrico e patético, está uma mudança na linha que vem sido traçada contra tudo e todos, contra a ordem social europeia, do Direito romano e da Fraternidade e Igualdade francesas.
Confusa toda a gente, ou grande parte dela, que mal tempo tem para pensar no que realmente se vai decidindo por aí, quando nem sequer lhes sobra tempo nem dinheiro para comer. Há um processo de metamorfose de traço americano, de oferta e procura, que desfigura a Europa solidária e a torna mais um mercado de ricos em topos-de-gama e plebeus de roulottes, nesse cenário de País, ou Países grandiosos, a esconder barracas e exclusão com edifícios megalómanos e construções em altura, que tapam tudo o resto.
O Ensino Superior com Bolonha, poderia ser simplificado, mais igualitário e gerador de oportunidades, mas ameaça o Saber e as gerações de pensadores europeus, submetendo-os a um corrupio de feira, com os Estados a sustentar os cursos por prioridades de Mercado. Como se as licenciaturas em Medicina, Direito, Arquitectura, Sociologia, História, Engenharias, Ensino e demais Ciências e Tecnologias, se cotassem em valor por acção, tendo os desafortunados de pagar o seu curso, a sua formação, fazendo o papel que cabe ao Estado e que justifica cada cêntimo de imposto.
Mercantiliza-se e empresializa-se a Europa e os europeus. Admiram-se os demais Homens Grandes, e não Grandes Homens, que os pequenos e mais jovens se revoltem nas ruas e que partam carros e montras, de Paris a outras tantas cidades, que lhes desaprovem a Constituição e lhes atrapalhem a golpada. Só tenho pena que se tornem ridículas a manifestações por cá. Parecem cheirar a um individualismo partidarista, de quem quer brincar às eleições todos os dias, apontar defeitos e ignorar virtudes, falar por alto, a tomar medidas de cosmética, a adiar o povo como a velhice, num metrossexualismo de política e de políticos. Esses mesmos, caciques e enferrujados na alma e na representação do povo e de si mesmos, e por fora irritantemente renovados por camada de cremes anti-rugas e suor de jogging.
Esta Europa torna-se um Continente de Babel onde ninguém se entende, ou ninguém entende, no que se quer fazer agora dela. A cada alargamento, uma expansão do mercado, dos vendedores e compradores… Ou se mudam os pensares e se restauram os valores europeus que nos tornaram diferentes, mais tolerantes, solidários e humanistas, ou se volta a cair numa esparrela medieval, de um feudalismo pintado de moderno, de caseiros e agricultores a mexer a máquina para os seus Senhores, escondidos por pequenas esmolas, sem cultura e sem assistência médica. É o que eles querem de nós. Lá em baixo, robotizados e calados, a trabalhar e a votar numa democracia de fachada, de um estado sem serviços, empresializado, vendido a meia dúzia de accionistas, OPAcionado…
E se o fantasma da Idade das Trevas, de um novo gótico, onde o povo se vê castrado no que não pode ser nem fazer, nem a Igreja ajuda. Não se moderniza e nem tão pouco se cristianiza… Prefere antes separar os homens uns dos outros, como o último dos proclamados em fumo branco, Bento XVI, amigo de Berlusconi, a aconselhar os fieis de que “Quando o perigo de perder a fé é latente, é um dever cortar qualquer comunicação com pessoas que tenham se afastado da doutrina católica". Não admira que muitos católicos se afastem dele, mais do que da própria religião...
* Os "tomates" da Europa
Sem comentários:
Enviar um comentário