sexta-feira, 28 de julho de 2006

A Patente de Deus

Nunca se ouviu falar tanto, nem tanto se informou e se propagandeou, nesta demasia, sobre uma guerra e sobre inimigos e conspirações. O mundo vive agora numa espiral de guerra desde a infâmia de Setembro de 2001. Tal como depois de Pearl Harbor, os pilares simbólicos do poder económico dos Estados Unidos fizeram ruir com eles a frágil sustentabilidade de um ocidente democrático mas que vinha agudizando, dentro e fora de si num quadro de aparente prosperidade, o fosso da desigualdade entre pobres e ricos. Não se nota, nem nota, uma classe média emergente, mas efémera, que se endivida na hipnose de Estados (aparentemente) Sociais que vêm vendendo, mais ou menos disfarçada e progressivamente às Multinacionais, o seu dever e papel para com a Sociedade civil.

Neste momento, não importa a opinião nem a discussão dos eleitores e tão pouco dos parlamentos e senados, onde se vão encontrando uns ou outros eleitos preocupados. Interessa antes, fazer suceder governos, mais ou menos iguais e cúmplices de uma gestão de prejuízo, esvaindo-se assim a esperança de mudança que morre no comodismo e atordoamento das pessoas. Veja-se recentemente nos Estados Unidos, onde um Presidente de Bíblia num braço, num moralismo cínico de alcoólatra, vetou uma Lei quase acordada por unanimidade entre Democratas e Republicanos, pela investigação médica em embriões humanos, que de qualquer maneira iriam ser deitados ao lixo, adiando assim avanços na terapêutica. Isto claro, se as Farmacêuticas não privassem as descobertas, na clausura de exorbitâncias, da grande parte da Humanidade, lembre-se!

Entretanto dura, há 5 anos, a crescente espiral de violência de uma “Terceira Guerra Mundial” ainda não denominada convenientemente, com o receio de um devido pânico e de uma precipitação generalizada. E na região mais cicatrizada e de feridas abertas, de remendos em cima de rasgões e rupturas eminentes, não sobrevive paz nem democracia. Sobrevive antes um ódio perante crianças mortas e na loucura imparável uma resposta e contra-resposta teimosa, de insanos a invocar Deus a cada assassínio. É a teimosia que impõe o preço da carne. E a troco de dois reféns israelitas e umas centenas de palestinianos presos sem acusação eterniza-se um conflito de cães a mostrar os dentes, e vão morrendo centenas de pessoas sem culpa e de esperança minguante.

No berço da civilização, e na era da Modernidade, paira a ameaça e a vergonha de um confronto final, de um presidente americano a querer arranjar o bode expiatório para lançar uma bomba nuclear sobre um Irão radicalizado, de modo sublinhar de negro a sua assinatura na História. Com isto, desmoronarão as conquistas e os valores de centenas de anos perante um perturbante motivo da Idade Média, a luta por uma supremacia de culto e de cultura, por uma Patente de Deus.

1 comentário:

Anónimo disse...

encontrei o teu blog nao sei como. li-o e gostei. notei também a tua aversão a comentários anónimos! =)

bem este "mal dizer" é um bem dizer, escreves realmente muito bem. uma escrita trabalhada, cuidada e reveladora de um discernimento cada vez menos comum. sim, realmente escreves mt bem.


mais um comentario anónimo. peço perdão =)