Algo me enche de ânimo, mesmo que residual, de que se vá consumando progressivamente esta mudança sociológica que tanto li e ouvi apontar. De resto, são pequenas grandes mudanças e que mostram uma abertura deste país que se aparentava fechado a coisas novas. Verdade é que os portugueses sabem decidir determinadamente, estão dispostos a mudar de opinião, se devidamente esclarecidos e informados. Maiores e vacinados, quem sabe de si, e de quanto o Estado e a sociedade precisam do seu pequeno empurrão para sair da lama estanque, saem da cama e votam, discutem, agitam bandeiras e respeitam as decisões da maioria.
Os alguns dos outros - que quase me incomodam as entranhas de modo a ficar verde e disposto a largar o almoço na porcelana da retrete - enchem os fóruns de opinião crispados, "porque não foram votar". "porque eram contra o referendo" e "porque eram contra a questão" e portanto, se calhar -no meio da confusão imperceptível dos argumentos - "eram do Não". Ah! E a altos berros ouvi, que "o SIM não ganhou" ou que"25% dos portugueses votaram SIM os outros 75% esperam um novo referendo daqui a 8 anos". Ora, brinquemos com as leis e desrespeitemos então o civismo de quem foi votar, 45% que serão, e segundo alguns especialistas (ao retirar os eleitores fantasma de cadernos desactualizados) estarão bem próximos dos 50% vinculativos. Mas tão pouco interessa. A leitura é a que deve ser feita: fomos votar mais e muitos mais foram os que não concordaram com o estado das coisas até então. Mude-se esta lei para a outra, que para lá de justa é sobretudo plural e um acrescento na saúde sexual da mulher e da própria nação.
Num aparte, só me desaponta a maquinaria partidária concelhia e demais aglomerações, e de certo modo me frustra. É que nas freguesias, mais ou menos urbanas e mais ou menos rurais, de Cabeceiras de Basto muito provavelmente se ganharia, em votos no SIM (puxo a brasa) e na participação, se se ouvisse mais barulho pelas ruas e quelhos. Digamos que muito do que se pode dar em termos de politica partidária, fora das instituições de governo e de decisão, passa por uma maior intervenção no esclarecimento e formação das pessoas no civismo e na discussão dos novos desafios da sociedade. Os partidos, como os movimentos de cidadãos, são, ou deveriam ser, o motor crucial de transformação e dinâmica da sociedade, que deve ser plural, diversa, sobretudo culta. [Neste sentido e não em novelas e golpes de palácio, na partidarite acéfala e no maria-vai-com-as-outras, ou, no meu preferido, vai-c'os-da-feira-e-vem-c'os-do-mercado.] É que só uma sociedade dinâmica e diversa, com respeito e orgulho pela mosaicidade das suas pessoas, sem imposições de moral nem supeirioridade intelectual, se pode dizer de direito e democrata. E só assim sobrevive num mundo em constante mudança, por muito cliché que seja, mas é por aí o caminho, em frente, e tão pouco quero ouvir falar de referendos sobre a "reintrodução da pena de morte", a questão em si seria, essa sim, um retrocesso.
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