segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Cabeceiras de Basto: Brumas no Futuro?

A obcessão de tornar grande - e o mais rápido possível - um concelho rural de Basto num urbano, estritamente minhoto e do Ave, torna tudo o que se vê em redor um puzzle difícil de encaixar. Os objectivos são portanto estranhos e confusos. Ninguém percebe claramente o que se quer fazer disto para o futuro. Se uma pseudocidade industrial, meca da confecção da Zara e Benetton e do imobiliário sem qualidade, com as suas astronómicas e merceeiras golpadas comerciais, quando em Agosto e em festas grandes do ano, extorque os trocados aos emigrantes clássicos e aos sazonais (na Espanha da construção civil) ou nas urbes dos filhos... Ou se outra coisa qualquer, que dê para mostrar mais a satisfação nos números que na cara das pessoas.

O caminho é deve ser desde já definido e, na minha opinião, no sentido de a fazer como uma pequena "cidade rural", turística e de serviços, motor da região, feita de vilas bonitas, com dinamismo e ligações boas entre estas e com os concelhos vizinhos. E a estratégia envolve várias eixos da vida no concelho.

Antes de mais, a economia concelhia tem de se basear no comércio tradicional típico, qualificado e readaptado às novas realidades, tirando partido da paisagem, dos produtos, gastronomia e das suas bucólicas quintas e rudes, mas belas, aldeias de montanha. No entanto, esta deve proteger o consumidor com regulamentação adequada e com respeito pela concorrência, não se invocando desgraças sempre que uma grande superfície se queira instalar no concelho. A indústria, por outro lado, deve ser compulsivamente retirada dos centros urbanos - como acontece com algumas estações de gasolina, serviços de mecânica, serrações e outras lixeiras de metal a céu aberto - e movidas para a áreas industriais devidamente delimitadas, com bons acessos e com respeito pelas normas ambientais.


Deve haver também uma aposta clara na educação, plural e inovadora com formação profissional, previligeando hotelaria e serviços, em todos os centros escolares com 12º ano obrigatório. Por outro lado a classe política, nas assembleias e executivos, devem insistir na diminuição do peso dos serviços camarários e da dependência burocrática e financeira da mesma, na vida social e económica do concelho. Deve ser estimulada a actividade cultural independente, o mecenato, novos orgãos de comunicação social, a participação cívica e o debate nos projectos de maior importância para o concelho.

Um concelho faz-se num todo. A dependência das vontades e da disponibilidade camarária é um sinal claro de que a Sociedade Civil cabeceirense ainda é muito pouco moderna e europeia. A iniciativa privada não se pode ficar pelas queixas e pela berraria inconsequente nem refém do paternalismo da Câmara. Esta que, como qualquer executivo, deve ter progressivamente um papel moderador e concentrado no bem de todos e na eficiência das necessidades básicas como:

  • educação de qualidade;
  • equipamentos desportivos e culturais articulados com as escolas;
  • saúde comunitária, com envolvimento da comunidade e não como feudo da classe profissional associada;
  • a salubridade;
  • os transportes e nas vias;
  • a regulamentação de zonas comerciais, habitacionais e industriais com fiscalização prevenindo a construção ilegal, sem qualidade e sem respeito pelas normas;
  • defesa instransigente e empenhada do património cultural e arquitectónico, fundamental para a oferta turística e para a identidade de Cabeceiras de Basto.
Mas isto só é possível com assembleias de freguesia e municipais abertas à discussão, com responsabilidade e sem a leviandade dos interesses partidários. E esta passa não só por uma oposição interessada, com ideias e que não esteja concentrada no abate e no achincalhamento pessoal, mas também por uma maioria de suporte ao executivo que seja permeável à opinião, livre e empenhada nos interesses justos dos cidadãos que os elegeram.

Os lugares em democracia não são propriedade privada, exigem respeito pelos eleitores e pelo dinheiro dos contribuintes. E democracia não são ouvidos moucos nem é insulto desbragado, é a noção da construção de uma sociedade onde todos contam. É tempo de se ter Cabeceiras de Basto como o partido de todos.

6 comentários:

Anónimo disse...

Já assinei o RSS.
Muito bom, gostei do blog! Parabéns

Marco Gomes disse...

Pois é meu caro Vítor, uma utopia luxuriosa o que escreves aqui.
Ideias precisas do que necessitamos para este Concelho, impossibilitadas, a priori, por um activismo inerte e pelos entraves aqui descritos.
Penso que a política tem de ser a tentativa de aproximação da utopia à realidade.
Primeiro passo já está, falta agora o mais díficil.

Anónimo disse...

Completamente de acordo com a visão do que deve ser o desenvolvimento de Cabeceiras. No entanto, nada será possível com a actual mentalidade do poder camarário, esmagar tudo e todos os que criticam, ainda que construtivamente. Como pode haver liberdade de opinião e estímulo à cidadania, quando nas reuniões de câmara não existe o período de antes da ordem do dia, pois foi abolido por Joaquim barreto, por forma a que os vereadores municipais, apenas e só se pronunciem sobre a ordem de trabalhos que ele leva à reunião. Tirando o Jornal "O Basto" e também a Rádio Voz de Basto, bem como alguns blogues como este onde se vai estimulando e promovendo a cidadania, em Cabeceiras as ideias não circulam, e isso favorece o caudilhismo e a eternizaçao no poder. A Câmara é uma quinta do senhor Barreto e da família socialista. A oposição eleita é medíocre e sem capacidade para exigir mais clareza e democraticidade. São cada vez mais necessários projectos aglutinadores e que envolvam a sociedade concelhia, externos aos partidos,estes sim, inquinados pela luta pelos taxos e pelos lugares públicos bem remunerados.

Vítor Pimenta disse...

Obrigado pelo add no RSS.

Caro Marco e Ferreira é apenas uma questão das coisas se discutirem abertamente, com optimismo e sem o ressabiamento típico da oposição que há por aqui. Esta deve envolver todos com um espírito saudável e descomprometido, sem intenções de vingançazinha ou crispação política.

Anónimo disse...

Caro Vítor

Seria de facto bonito daqui a uns anos vivermos num concelho assim, partindo do pressuposto que daqui a uns anos ainda teremos concelhos!!!

Contudo permite-me discordar da forma como expões os argumentos.

Os riscos em apostar num desenvolvimento baseado sobretudo nos serviços são grandes. Por si só não garantem a sustentabilidade do desenvolvimento. A aposta no turismo está na moda, porém não é a panaceia para todos os males. O turismo na nossa região está sustentado num aspecto fundamental que é a paisagem, as tradições culturais, etnográficas, saberes-fazer, etc e tal... Ora todas estes aspectos estão dependentes de uma actividade em particular que é a Agricultura do conceito multifuncional que lhe está associado e dos agricultores. São eles que tratam da nossa paisagem e a mantêm aprazível e possibilita que tenhamos os produtos locais (comida, bobida, roupas, artesanato, etc.). Continuando no Turismo falta uma coisa que é importantíssima. Será que Cabeceiras, ou porque não a Região de Basto, têm um produto turístico completo com o qual possa concorrer no mercado?
E o nossos recursos locais serão a solução para renovar o tecido empresarial local pois não estão sujeitos a deslocalizações.
Quanto à sociedade civil cabeceirense ser pouco moderna e europeia existem causas conhecidas, como por exemplo os baixos níveis de formação escolar. Porém num Mundo globalizado, o facto de sermos pouco europeus pode ser considerado um trunfo, pois nele reside a nossa identidade, e isso nunca podemos perder.

Muito pode-se fazer, mas muitas das decisões terão de ser tomadas num nível supramunicipal, que neste caso é...Lisboa (fónix).

Vítor Pimenta disse...

Tózé.
Aceito e concordo em grande parte com os teus argumentos.
Obviamente que não mencionei o peso da actividade agrícola numa região como a nossa e na sua importância no Turismo pela pura negligência do óbvio. Mas um concelho desenvolvido e moderno, mesmo rural, não tem toda a sua população a trabalhar no sector primário. Depende dele em primeira medida mas a grande massa laboral passará pelos serviços e indústria.

E claro que Cabeceiras de Basto terá muito mais projecção e sustentabilidade turística no contexto da Região de Basto com uma estratégia ambiciosa.
Dirás que será necessária a Regionalização. Obviamente.

Quanto à Sociedade Civil, a considerá-la pouco europeia é no sentido de ter fraca participação cívica e interveniente, e tão pouco aberta a desafios comuns, pouco ciente da sua responsabilidade. Pouco cosmopolita atrevia-me. Mas é como dizes, fraca formação. Felizmente a informação nas camadas jovens, entra monitor adentro com tanta internet e novas tecnologias.