sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Os 7 Horrores de Cabeceiras de Basto

Ora, aqui vai como prendinha literária para o fim-de semana:

1: Variante (futura) sobre Santa Senhorinha vulgo Variante às EENN210/205

É o exemplo máximo da capacidade de influência do Presidente da Cãmara de Cabeceiras junto do Poder Central. Obra de milhões rapidamente aprovada - ao contrário da via do Tâmega prometida desde o apogeu do cavaquismo - que terá, julgo eu, reduzido impacto positivo no desenvolvimento do concelho a norte e quase nenhum a sul, onde vai esfrangalhar tudo, diga-se... Não contestando a urgência da melhoria do acesso das zonas mais setenterionais do município à Auto-estrada, verdade é que isto resolve o problema como uma bazuca a matar melgas. Tornar-se-á, portanto, neste enorme mamarracho de betão e asfalto horrível, uma via fechada com 2 ou 3 saídas, suspensa em partes, por um enorme viaduto com mais de 1 Km, sobre alguma da paisagem preservada no verde das lavouras de terras baixas. Enfim, o pouco de bucólico que ainda ia descansando a vista por aqui. Será, tristemente, uma nódoa no horizonte, muito difícil de lavar.


2: Praia Fluvial do Caneiro

Já foi um centro de agitação turística, cultura e de lazer para as gentes de Arco de Baúlhe, Pedraça, e arredores. Agora, é uma represa de pestilentos nadas. Com os empreendimentos de extremo mau gosto, a passividade das autoridades perante as decargas suínas, o lixo atirado por caseiros ingénuos e a extinção dos guarda-rios, a praia fluvial tornou-se... praia pluvial. O cheiro da água - aliás - empesta a milhas e todos os anos, para ter como atirá-la à cara de muita gente, insiste-se em encher-se-lhe as bordas com areia saibrosa, boa para raspar os calos dos pés. E que tal plantar um ervado que se segurasse, não? É que sempre que chove mais um bocado de Inverno, com as comportas por abrir, lá se penteia a areia para a piscina montada e, em cima, lá fica a pedregulheza à mostra. Qualquer dia os açudes ficam tão pleninhos de tanta areia que praticamente só um bébé de 18 meses é que não tem lá pé...


3: Urbanizações da Quinta do Mosteiro

Surgiram como bizonte pronto a descarnar pela esfomeada matilha de empreiteiros em Cabeceiras. Novelas e dinheiros a rodos de um lado para o outro, barras de tribunal e impropérios, abriu-se o ventre da Quinta com uma enorme avenida e uns tantos arruamentos a afluir-lhe. Pelo meio, e no lamaçal, ergueram-se alguns edifícios públicos, equipamentos e placas de coisas p'ra mais tarde. Em redor e encostados uns em cima dos outros, foi a vez da construção dos apartamentos e lojas, atabalhoados sem alvará e licença, ou fiscalização, à boa-vontade e sem garantia nenhuma. O Centro de Saúde, por exemplo, tem as salas de consulta sem sigílo nenhum, com as janelas traseiras a dar para um enorme prédio. Esse mesmo que, para não incomodar com barulho os hipocondriacos que vão "apanhar soro", teve de erguer um muro sobre a única saída emergência do bar onde muitos vão tomar o soro nosso de cada fim-de-semana à noite. De resto, e só para encher olho, a vila cresce à vista de todos. Cedo será cidade a torto e a direito. O Mosteiro, maravilha máxima com as torres e os claustros, vai morrendo no panorama, enclausurado por uma feia muralha de betão.


4: Prédio do Retiro do Arco de Baúlhe

É simbolo máximo do mau-gosto urbanístico dos anos 80. Azulejos de casa de banho por fora, zinco das janelas às portilholas e os inacabados paineis laterais a expor a derme de tijolo e argamassa. Mesmo assim, foi n'altura centro da actividade alternativa, a rouçar o marginal, com os seus cafés, de cima a baixo, a servir como apiadeiro antes das idas à discoteca, ali num edifício vizinho de um lado, e ao Pub (Moonlight Bar) do outro. Nos anos 90, foi a vez da fábrica de cuecas e da decadência progressiva dos cafés, das seringas e limões a pontapés - a lembrar o Trainspotting - mesmo em frente ao Jardim-Escola da então recém-tornada vila. Desde então é lugar de apartamentos de passagem, arrendamentos provisórios... Por baixo, e no terreno que o circunda, é cemitério e pousio de sucata, troncos de madeira, caterpilars e mecânicos - o pior postal possível para quem vem de Refojos, Cabeceiras ou o que seja, e chega a Arco de Baúlhe. Vergonhoso, mesmo para quem não é de cá...


5: Edifício Turismo

É o monumento exemplificativo do desvio polémico e parolo da tentativa de requalificação dos espaços públicos. Digo tentativa, porque tanto a Praça da República quanto o Largo da Serra, em Arco de Baúlhe, têm sido alvo de... sucessivas tentativas de requalificação, ao longo dos últimos mandatos, se bem que o segundo ainda está na fase do sucessivo remendo. Mas voltando ao edifício Turismo: verdade que dotou a praça de um posto de informação turística, loja e uma esplanada, dando-lhe mais alguma vida; mas retirou-lhe a luminosidade e pintou-lhe o pitoresco dos edifícios de um branco cimento que mesmo que não sendo tão arrojado (e que até podia ser) ficou muito mal enquadrado. Por outro lado, escondeu-lhe a fonte sobre a ponte, moveu-a, e tal como ao Basto, tirou-lhe a postalidade. O guerreiro monge, com a cabeça de músico de presépio, viu-se então como nunca no tempo dos mouros: encostado à parede.


6: Serrações desactivadas no Centro da vila(zinha) de Arco de Baúlhe.

O problema não é de agora, mas se tiveram muita importância no passado alimentando a enorme indústria e comércio de mobília e carpintaria, e com isso muitas famílias, as serrações em Arco de Baúlhe tão pouco para museu ficaram. Com o tempo, foram - e bem!- deslocalizadas para zonas mais isoladas nos limites da freguesia, deixando o centro urbano livre do rosnar da sirene de ponto, às 8h da manhã e horas de almoço, do barulho ensurdecedor das máquinas de serrar e do serrim que deixava lacrimejados os olhos de quaisquer transeuntes que, pela rua abaixo, desciam da capela ao "Oliveira das Fazendas" ou ao Padeiro. Agora, são um outro incómdo para a vista. Ocupam espaços-verdes potenciais ou, porque é o caminho quase obrigatório infelizmente, zonas de habitação e comerciais de futuro. São também o exemplo de como a propriedade e o dinheiro de alguma gente é visto por esta com uma perspectiva tacanha, avarenta e perguiçosa. Isto, quando muito podiam contribuir para o desenvolvimento sustentado e o embelezamento da vila onde vivem e fazem negócio, rentabilizando-o e por consequência, tirando proveito disso mesmo...


7: Chalés dos Emigrantes ( não tem foto para não ferir ninguém)

Confesso que desempatei por voto de qualidade (ou falta dela) com outros tantos horrores em votação. Só que, não desprezando ou minimizando o esforço sobrehumano dos que daqui partiram para melhor vida por esses quelhos acima, os chalés dos Emigrantes foram, a par com o fomento das Canções ao Agosto, um dos piores monumentos que estes poderiam erguer a si mesmos... Desfiguraram aldeias características, despejaram-nas de pedra e madeira, e encheram-nas de tintas beige e roxas, telha preta e telhados altos, sótãos e quartos quentes de Verão, com carpete e asma. Além disso, promoveram a massificação do azulejo de casa de banho nas paredes exteriores, o uso de varandas de zinco e os jardins com chafarizes e muros coroados de leões, águias, dragões e pilinhas... Por muito que o kitsch esteja na moda, com os fatos de treino à 70's e o bigodezinho alternativo, os chalés continuam completamente out! Mas sejam bem-vindos de novo, cousins! Au revoir e até ao ano prochaine!

15 comentários:

Anónimo disse...

um dia ainda me vais explicar o porque de tanta insistencia com a via do vale do tamega.Para que nos serve, senão apenas para saciar caprichos. Desde a extinta Atel que nada de interessante sopra dequeles lados. anão ser que seja o JP que te preciona.Lol.

Vítor Pimenta disse...

Malamem, quem �s tu, que tantos rezam para o Pai-Nosso nos livrar?

Para que nos serve?
Para muito! Mais e melhor liga�o do Arco a Amarante, para escoar aquele povo de l� para c�. N�o te esque�as que temos muita gente num vai-vem at� Molares e mesmo Celorico. Por outro lado, era bom para abrir bares e outras casas de com�rcio e culutra no Arco. � que mais depressa v�m at� Ba�lhe as pessoas de l� do que as de Refojos, com as quais as afinidades s�o meramente institucionais...

Marco Gomes disse...

"...com as quais as afinidades são meramente institucionais..."
Arcoismo?

Vítor Pimenta disse...

na sua generalidade são, Marco! Obviamente muito mudou nestes últimos tempos, mas o comércio e a economia arcoense nunca viveu do dinheiro da zona norte. E nesse aspecto, são apenas burocráticos: impostos, licenças...

Marco Gomes disse...

Visto por este prisma não só o Arco, mas, como grande parte do Concelho tanto a Sul como a Norte.

Vítor Pimenta disse...

Estou apenas a fazer uma análise sociológica. Não confundas. Mas também vivo cá e tenho noção das coisas. E apesar disso tudo era um enriquecimento conjunto, num todo, não se pode ter essa visão estreita de que o que tem de ser bom para um só pode ser mau para os outros. Não funciona assim, quando toda a gente vive no mesmo concelho. Por outro lado, a questão da Variante é a do investimento avultado sem consequências positivas nenhumas a Sul, onde estraga completamente a paisagem e vai encher as vidas de poeira e barulho durante algum tempo.

Marco Gomes disse...

Falando sobre a variante, o projecto pode não ser o ideal (talvez houvesse melhores), mas, a sua essência é muito pertinente,i.e., o descongestionamento do centro do Arco (já é uma vantagem para esta zona do sul do Concelho) e a "aproximação" da valência que é a auto-estrada A7, para os 80% dos habitantes do resto do Concelho

Vítor Pimenta disse...

O descongestionamento pode ser uma vantagem, não nego, mas não abre perspectivas de crescimento. É uma via fechada. Seria melhor se fosse uma via larga, aberta, a contornar pelo rio, abrindo perspectivas de novos bairros que dessem pelo menos mais 1000 habitantes ao Arco, para diluir certos arcoismos arcaicos de alguma gente velha por ali. Pelos vistos a prioridade máxima é a Sede de Concelho. Pena, tão a deixar morrer uma freguesia, que já foi das melhores da região.

Marco Gomes disse...

São as particularidades de um sistema democrático, mesmo em detrimento de uma minoria tem-se de satisfazer a necessidades da maioria. É pena, mas, é assim.

Vítor Pimenta disse...

Necessidades... Pior que isso é a noção que se tem das mesmas...

Vítor Pimenta disse...

Já agora. E se lessem o resto dos horrores e não se ficassem pela Variante?

Francisco Rodrigues disse...

A variante é sem dúvida, nestes moldes um horror; aliás escrevi sobre isso no Mesa da Ciência. Mas, um dos horrores em que votei, e conheço bem, é a Urbanização da Quinta do Mosteiro. O centro da vila de Cabeceiras, mais propriamente Refojos de Basto, tinha o grande encanto da imponência desproporcionada, no bom sentido, do Mosteiro de São Miguel de Refojos, comparativamente com a malha urbana envolvente. Com esta urbanização, este contraste que então existia e era belíssimo, simplesmente desapareceu. São pequenos grandes erros que aniquilam uma terra particularmente bonita. Essa urbanização é um verdadeiro horror. Enorme.

Anónimo disse...

oh vitor pimenta, vai trabalhar... é o que precisas. bebe águinha e fuma menos charros

Anónimo disse...

Oh chefe, bisonte é com S e não com Z...
Olhe, se não quiser a obrinha da variante, por favor peça para a fazer num concelho ao lado heheheheh
Falais, falais, mas pouco contentamento tendes.

Anónimo disse...

puta que pariu!