sábado, 10 de novembro de 2007

A Avenida que também sou dela

Hoje mais uma crónica de Cinzas de País Cremado, Deitadas ao Mar, numa Avenida Central que poupada às chamas não se livra do fumo que a rodeia.




"Ardem os montes em Novembro tão estranhas que se tornam as nuvens que deviam ser de chuva. Ao longe, da janela do meu quarto, vejo a Cabreira a arder num Verão de S. Martinho que já não surge isolado como uma aberta durante o Outono. É um prolongar em apêndice de estações atípicas, secas e, por si só, confusas. Mal habituados estamos nós, os lavradores e begueiros de FAMEL estacionada em frente da taberna. Não tendo que fazer e pisadas as uvas, encerrados os lagares de miséria, alambiques de clandestinidade, sem feitura de bagaço que lhes ocupe a cabeça com coisas de menos prejuízo, botam-se de braguilha aberta e isqueiro na mão, a iluminar os montes com labaredas. "Queimadas" que dão coisa grave, dirão, por pura ingenuidade dos atiçadores. Era só para renovar o pasto a chibos poupados pela brucelose e pagos, ou não, pelos fundos europeus... Mas em grande parte, as pinceladas de lume que se vêem ao longe, fazem-se contra o tédio e pelo aparato que se lhe associa. Pelo circo montado e o carro de bombeiros, como pantera vermelha, a saltar por entre o círculo de fogo. Soldados de paz impreparados que, por muita alma e coração que dão no trabalho, antes disso, lhes vai primeiro a pele e o boche com o fumo e o chicote das chamas."

1 comentário:

Anónimo disse...

É com enorme tristeza que olho esta foto. Vejo a arder talvez, o que de melhor tem o nosso concelho. Os verdes campos, o aroma à erva molhada dos pastos, as florestas de carvalhos e vidoeiros a culminarem no precioso silêncio, que tanto embelezam a Serra da Cabreira. E tão longe que estou, numa Lisboa que me rouba tudo isto, onde o silêncio se faz das buzinas e dos motores dos automóveis, o verde se faz do cinzento da construção crescente, e o aroma se cinge aos gases dos veículos motorizados. Agora o verde deu lugar ao negro e, vão ser necessários anos ou décadas para reflorestar esta bonita serra, isto se houverem projectos de reflorestação, que tão escassos são neste país. Mas o porquê também é importante. Sim, o porquê de continuarem a arder áreas protegidas no nossos país?!(Gerês, Arrábida, Cabreira, etc) Talvez o actual executivo de José Sócrates deva rever as suas políticas insuficientes de combate a este flagelo. Mas ja estamos habituados ao país que continua a investir nas políticas do remendo esquecendo-se que a prevenção é o caminho certo e menos dispendioso. O governo insiste em reforçar os meios de combate aos incêndios negligênciando a limpeza e a vigilância das florestas, que tanto emprego sazonal poderiam dar aos "calões" e preguiçosos que estão a receber o rendimento mínimo garantido sem fazerem a ponta dum corno. Além disso traria outra vantagem associada, o aproveitamento do produto final da limpeza das matas como matéria-prima para gerar energia eléctrica ou térmica, em centrais de biomassa e indústrias tarnsformadoras, respectivamente. Até porque é bom lembrar, que Portugal é muito dependente do ponto de vista energético, isto é, não produz energia suficiente para aquilo que consome, vendo-se assim, obrigado a importar. São ideias que obviamente não são minhas, e que teriam de ser ponderadas, estudadas, e avaliadas do ponto de vista da sustentabilidade económica e ambiental. Mas chega de "remendos"! É urgente encontrar soluções, senão corremos o risco de ver este rectângulo encostado ao Atlântico, transformar-se num manto de cinzas que mais se assemelha a um crematório.