Arco de Baúlhe não tem uma Quinta do Mosteiro, com largas parcelas de terreno susceptíveis ao estupro imobiliário. Mas tem quintas de marialvas, em decadência, de fidalgos do nada, de que lhes resta pouco mais que o título, que em República de nada serve, e claro as heranças, em lavouras e casas brasonadas.
No Arco, há pelo menos 2 casas: do Arrabalde (foto à esquerda e em baixo) e de Cimo-de-Vila (em cima); entregues aos elementos naturais e às perversidades humanas - esta última, ardida há uns meses, sem causa aparente, tão estranhamente a meio de uma enxurrada de água. E entre elas, uns hectares (talvez, porque tão pouco sei de medidas em larga escala, e raramente falo em anos-luz de terreno), com uma Escola EB 2-3 pelo meio, uma piscina municioal, uma biblioteca, gimnodesportivo e um amontoado de zinco que serve sede da Cruz Vermelha.
As casas entretanto, caem aos bocados, e a memória com elas. Estão subaproveitadas, deitadas ao desleixe e não há quem lhes deite mão. Boa mão, sublinhe-se, porque se o Estado não tem direito de obrigar as pessoas deste país a cuidar do lhes calhou na rifa, grande parte delas com um porta-misérias de bolso, tem de pelo menos o dever de facilitar e proteger a sua História da erosão e do lucro. E nem tudo o que se ergue novo é obra, e muito tem de ambientalista (re)aproveitar o que o tempo nos foi deixando no caminho.
As casas aliás, são da pertença da Família Roby, ligada a um punhado de tantas outras em Braga inclusivé (e perdoar-me-ão o lapso pois afirmo de memória) a Casa de Ínfias, junto do Liceu de Sá de Miranda e de grande beleza, porque entretanto foi restaurada. Isto, apesar do arvoredo de betão armado, dos muitos blocos de apartamentos construídos em redor, para não falar nas leiras da quinta cortadas em mais de quantos nós e feitios pela circular de Braga. Obras que, na puberdade da pintelheira urbana bracarense dos últimos anos, salvou-lhes a fidalguia de uma total decadência, típica da desamparada aristocracia portuguesa. Destes que poucos sobraram - e se calhar até muitos... - para a vida social e política do País. (E não é que entre eles temos Pedro Bacelar Vasconcelos de foto e texto dignos de espreitadela na NS (do JN) deste Sábado.)
Dos irmãos Roby, os recentes, e não os que calcorrearam a África Portuguesa de um lado ao outro, nem tão pouco (que eu saiba pelo menos) o outro que desflorou a vida e o escrito a muita menina de boa família, lá vão vendendo às postas, bocados de terreno, a uns e a outros, à Câmara de Cabeceiras de Basto, para mais uma obra, um alargamento de via. Mas entretanto cai-lhes a pintura das paredes, as pedras e as telhas, a madeira e o esqueleto das casas e com isto muito boa parte da memória, no seu património arquitectónico com alguns interessantes pormenores, e potenciais postais turísticos da vila cada vez mais dormitório e pachorrenta.
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