Ao finar do dia de Domingo, é vê-los aos rodos, de roda de autocarros, ou camionetas (como se diz em Braga: que os autocarros andam dentro do perímetro da cidade e não fora dela), junto do nó viário, como lhe chamam também, em Arco de Baúlhe. A estes colossos de 50 ou 60 lugares, sentados ou de pé, uma bafareira embriagada e triste, risos mascarados de camaradas da circunstância, juntam-se carrinhas de 10 ou 9 lugares, de caixa fechada, como quem os embala em dias do meio da semana rumo a Espanha, dali a umas horas valentes, estrada fora desde o nó da auto-estrada, A7, virada a Chaves, porta aberta à Europa e aos salários de maior cobertura.
Este país não é para pobres, nem assalariados ou escravos de parca miséria, nos trocados que lhe dão por horas ao sol e à chuva, em obras sem trâmites de segurança sequer, a fazer paredes finas em tijolo-estuque, condutância dos calcanhares de tacão alto, acima e abaixo, nos andares. A botar placa, umas em cima de outras, e umas por cima das outras. No estreitado que faz as cidades por cá e por lá, menos soalheiras e mais cinzentas-escuro, da cor do inverno quando era inverno.
Digo-lhes ao menos, a um punhado de gerações, pais e filhos de pior sorte, netos alguns se calhar, que lhes vai valendo ainda os fins-de-semana passados na casa portuguesa - com certeza! - a alimentar a saudade, a barriga de misérias, o empréstimo ao banco, a carregar o telemóvel. Essas coisas. Porque não os vejo por perto, grande parte deles - neste país pelo menos - durante o eixo de 2a a 6a. Para eles é de lunes a viernes. E em Cabeceiras de Basto - porque me interessa e sou de cá lapa de coração - nesses dias em ditongo castelhano, é um vazio de mulheres viúvas de presença e crianças sem pais nem irmãos, década de 60 em anos de outra fartura, esquisita, porque é o senso de fartura que escraviza as massas e as faz migrar para longe. E com isso, os que cá residem aumentam e diminuiem como as marés. Com anos próximos, uma maré baixa. Digo-o, nos rodeios de literado (modéstia a parte - não o devo ser assim tão inchado).
A crise do imobiliário tem adoecido a economia espanhola que arreava de cornadura ao alto estes anos para cima,e que a fez 8ª do planeta. Está mal agora, para quem constrói em Espanha e com ela, em piores lençóis, ficam os que insistiam em calejar as mãos por lá, em troca de um fim-de-semana em Portugal. A sangria vai levá-los de novo para longe, mais ainda: Alemanha, Bélgica, Suíça, Holanda, Inglaterra - quem sabe Angola! Pelo menos, enquanto não houver lançadas as empreitadas de Alcochete-Jamé, TGV e Metros de superfície. Mas duvido que por cá fiquem, mesmo assim. Estas grandes obras é para pretos e ucranianos, mais ou menos licenciados, com menos vergonha que os nacionais em serem trolhas por cá. Se calhar sem grandes alternativas. Enfim, coisas do fraco amor deste país a nobres artes e que se desenha no que lhes paga: ordenados esguios, os possíveis no saque ao longo da nomenclatura dos concessionários.
Nesse entretanto, os apartamentos, que enchem o olho e recheiam planos de urbanização aos caciques, quedam-se vazios como chalés. E com o subprime, inflações e taxas de juro em catadupa, quem sabe, nas mãos dos bancos que pouco saberão fazer com estes mamarrachos às moscas. São, na impotência da criatividade, falsos monumentos ao empreendedorismo. Enganam, porque não têm sustentabilidade, são angustiantes como os dias escravizados de hipoteca.
Este país não é para pobres, nem assalariados ou escravos de parca miséria, nos trocados que lhe dão por horas ao sol e à chuva, em obras sem trâmites de segurança sequer, a fazer paredes finas em tijolo-estuque, condutância dos calcanhares de tacão alto, acima e abaixo, nos andares. A botar placa, umas em cima de outras, e umas por cima das outras. No estreitado que faz as cidades por cá e por lá, menos soalheiras e mais cinzentas-escuro, da cor do inverno quando era inverno.
Digo-lhes ao menos, a um punhado de gerações, pais e filhos de pior sorte, netos alguns se calhar, que lhes vai valendo ainda os fins-de-semana passados na casa portuguesa - com certeza! - a alimentar a saudade, a barriga de misérias, o empréstimo ao banco, a carregar o telemóvel. Essas coisas. Porque não os vejo por perto, grande parte deles - neste país pelo menos - durante o eixo de 2a a 6a. Para eles é de lunes a viernes. E em Cabeceiras de Basto - porque me interessa e sou de cá lapa de coração - nesses dias em ditongo castelhano, é um vazio de mulheres viúvas de presença e crianças sem pais nem irmãos, década de 60 em anos de outra fartura, esquisita, porque é o senso de fartura que escraviza as massas e as faz migrar para longe. E com isso, os que cá residem aumentam e diminuiem como as marés. Com anos próximos, uma maré baixa. Digo-o, nos rodeios de literado (modéstia a parte - não o devo ser assim tão inchado).
A crise do imobiliário tem adoecido a economia espanhola que arreava de cornadura ao alto estes anos para cima,e que a fez 8ª do planeta. Está mal agora, para quem constrói em Espanha e com ela, em piores lençóis, ficam os que insistiam em calejar as mãos por lá, em troca de um fim-de-semana em Portugal. A sangria vai levá-los de novo para longe, mais ainda: Alemanha, Bélgica, Suíça, Holanda, Inglaterra - quem sabe Angola! Pelo menos, enquanto não houver lançadas as empreitadas de Alcochete-Jamé, TGV e Metros de superfície. Mas duvido que por cá fiquem, mesmo assim. Estas grandes obras é para pretos e ucranianos, mais ou menos licenciados, com menos vergonha que os nacionais em serem trolhas por cá. Se calhar sem grandes alternativas. Enfim, coisas do fraco amor deste país a nobres artes e que se desenha no que lhes paga: ordenados esguios, os possíveis no saque ao longo da nomenclatura dos concessionários.
Nesse entretanto, os apartamentos, que enchem o olho e recheiam planos de urbanização aos caciques, quedam-se vazios como chalés. E com o subprime, inflações e taxas de juro em catadupa, quem sabe, nas mãos dos bancos que pouco saberão fazer com estes mamarrachos às moscas. São, na impotência da criatividade, falsos monumentos ao empreendedorismo. Enganam, porque não têm sustentabilidade, são angustiantes como os dias escravizados de hipoteca.
4 comentários:
Vítor, tudo o que dizes é verdade e traduz uma análise sociológica correcta à actual realidade de muitas famílias cabeceirenses, cujos homens têm conseguido um "lugar ao sol" no país vizinho e aí ganham o sustento para as suas famílias. Também é certo que os tempos que se avizinham não auguram nada de bom, devido à crise que se está a fazer sentir, principalmente no sector imobiliário em Espanha, que vai inevitavelmente provocar desemprego e afectar directa ou indirectamente os nossos conterrâneos. Para além dos factores que apontaste como a subida das taxas de juro, há um factor que me preocupa e à volta do qual gira toda a nossa vida. Refiro-me às constantes subidas do preço dos combustíveis ( hoje o Correio da manhã informa que o preço do gasóleo devido à especulação pode chegar aos 300 escudos o litro) e tudo isto é demasiadamente grave, para que a nível local não se implementem algumas medidas e decisões políticas tendentes a fazer face ao aumento do custo de vida. Refiro-me à racionalização dos preços em certos serviços municipais como a recolha de lixo ( que assistiu a aumentos de 78%), abastecimento de água ( aumentos exagerados), derrama municipal (IRC) taxa máxima em vigor), contribuição autárquica, praticamente no máximo tb)e finalmente IRS sobre os cidadãos ( aqui tratou-se de uma receita adicional que a Câmara obteve este ano sobre 5% do IRS produzido no concelho, que passou a ser gerido pelo município. Aqui também poderia haver uma diminuição, por forma a potenciar atractividade. Com todas as dificuldades que as famílias sentem, não me admiraria que a criminalidade aumentasse no concelho e na região, e isso é que não é nada desejável.
Crispação e desalento vai havendo. Devo até confessar que grande parte das queixas de doentes (não minto se rouçar na metade) em centros de saúde têm por base perturbações depressivas e de ansiedade perante as actuais condições de vida e de trabalho.
E especulação dizes bem. Na realidade, os preços de petróleo para a Europa que compra a euros não está tão alta como parece: 68 euros o barril (a preços cambiais de hoje) e isso é que é assustador, a manipulação. As petrolíferas têm-se aproveitado da publicidade que lhes faz a televisão. Não há sequer justificação para este agravamento dos preços. A obsessão pelo valor em dólares é que embebeda as pessoas e as deixa ser extorquídas, meu caro.
Quanto a taxas municipais é óbvio que a despesa com máquina e o óleo é enorme. Infelizmente, e sem mecenato por cá, há uma penalização agravada sobre os contribuintes e que terá repercussões na saúde das pessoas. Talvez um Hospital Psiquiátrico se adequasse melhor à situação local de futuro que esta amostra de hospital em construção que tanta birra causou por aqui.
Se fosse um problema só dos Cabeceirenses!!!
O que o Sr. vê por aí, infelizmente vê-se por este País todo.
Enquanto os Espanhões exportam Médicos e Enfermeiros, nós exportamos "trolhas" (com todo o respeito por eles). Eis a diferênça dos Países.
Correcto e o que o senhor anónimo diz entronca com um problema nacional crónico. A falta de qualificação e literacia das pessoas que obstaculiza a promoção do emprego sustentado, que programas de "embalar" tipo novas oportunidades não conseguem resolver, pelo simples facto de a nível nacional nivelarmos os objectivos por baixo ( e esse é que é o erro) e não haver exigência nem autoridade nas escolas. É o passa tudo a toda a hora! Daqui a uns anos, diremos que alguma coisa não está bem, isto sem querer ser pessimista, concordo com Manuel Alegre, quando ele refere "que não acredita minimamente nesta reforma educativa" e que a mesma terá que ser reequacionda. Ele lá saberá do que fala...
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