terça-feira, 4 de março de 2008

Professores Beatos, Demónios Ministeriais

Quem me ouvir falar amanhã, no Rádio Clube, pelas 16horas e tal, 92.9 para os mais dessintonizados, poderá por a minha cabeça a prémio, tal foi o afinco com que defendi a ministra da Educação, ou pelo menos que assim o tenha parecido. No jogo de diabolização, poderão entender, os leitores e ouvidores, que me quedei por demonizar a classe dos professores quase como o mal do sistema porque não lhes agradam reformas ou mudanças, boas ou más. Se calhar nenhumas. O Pedro Romano, no Avenida Central, é bem mais incisivo e com boas verdades, algumas se calhar generalizadas:


Aliás, os professores admitiram este cenário durante muitos anos. Nunca nenhum professor negou que fosse necessária uma reforma profunda deste sistema putrefacto. Queriam todos a mudança. Só não queriam aquela mudança em particular. «Aquela mudança» era toda e qualquer mudança que fosse proposta. Em abstracto, eram todos a favor de mudanças. Concretamente, a coisa ficava mais turva."

Em Portugal, a classe dos professores, como muitas noutros sectores (saúde também, pronto- talvez o acto de contrição lhes contenha o azedo), muito pouco fez para mudar um sistema que é um total falhanço... Não lhes questiono, até, que talvez lhes tenha passado pela cabeça tal intenção, mas há confortos de inércia no serventilismo público que convém que não se mexa muito. Pelo contrário, é preferível o queixume, conceito-atitude impregnado nas várias formas do sindicalismo português que nunca percebi os moldes e os objectivos*, que faz rodar governos, uns tão parecidos e iguais aos anteriores e aos seguintes, e que perpetua este limbo. O mesmo estado das almas que alimenta os professores metidos no gordo da burocracia, a chamar nomes a primeiros-ministros (ou mesmo que não lhes tenham chamado, vamos só fazer de conta que sim), e que encarreiram nos automatismos da coisa. E aqui sim, também subscrevo o Pedro Romano, porque as formações pagas por muitos professores (do próprio bolso, como dizem), em mestrados e pós-graduações, nunca tiveram no âmago grande interesse pela valorização pessoal, no que poderiam dar aos seus alunos, que não na forma de acelerar na progressão e consequentemente em menos trabalho(menos tempo com alunos - ora vejam lá) e mais dinheiro. Tão certo como tudo nesta vida e neste mundo, que me perdoem os excelentes professores que conheço na dedicação e nos valores. Mas, infelizmente, é da actual natureza das coisas.

*porque nunca os vi na rua a contestar o fraco produto saído das escolas públicas;

5 comentários:

Anónimo disse...

Há qualquer coisa de confuso nesta discussão/opinião...a mim parece-me que os professores não estão a pedir dinheiro nenhum, mas sim uma abertura ao diálogo para conseguirem uma plantaforma de entendimento no que diz respeito a determinados pontos desta reforma educativa, entre os quais, a avaliação curricular dos alunos, gestão escolar e burocracia. agora, que a sociedade e os governos não estão habituados a um tipo de posições renvidicativas tão sustentadas e com tanta força também é verdade. se a manifestação que está prevista para abril em lisboa for em frente, Portugal e a Europa vão poder ver uma das maiores greves já mais vistas por estas bandas cerca de 55000 professores irão sair à rua e com isto dar um exemplo de força e firmeza contra uma ministra que somente teve esta infeliz afirmação: " Perdi os Professores mas ganhei a opinião pública" isto só demonstra uma enorme falta de sensibilidade para reformar o que quer que seja. como é que a educação se reforma sem professores? como se reforma a saúde sem médicos? como se reforma a economia sem empresas? como se reforma a Justiça sem Juizes e advogados? como se reforma um estado sem ministros? alguém me explica? por favor sejamos menos sectaristas e relacionemo-nos com intelegência... eu não sou professor mas já percebi o que está em causa, porque e repito, ainda não vi um único professor a por em causa questões económicas ou da sua própria avaliação.

Vítor Pimenta disse...

Quem viu o Prós e Contras, entende-se ou subentende-se maiores preocupações em horas extras por pagar e obviamente no incómodo de mexer na automotora da carreira. Obviamente que não, mas se o carácter da ministra não é coisa que agrade a forma terrorista dos lideres sindicais é igualmente desprezível.

Anónimo disse...

Boa Noite Vitor.

Os professores não são contra a avaliação, nem são "uma cambada de marotos" que querem faltar às aulas para ir apanhar sol. Muito se tem falado sobre educação, e ainda ontem no programa prós e contras da RTP1 foram ditas algumas considerações pertinentes sobre a Escola portuguesa.

Imagina o seguinte, um superior ordena-te que faças uma cirurgia inovadora num doente sem sequer te indicar qual o diagnóstico. Foi mais ou menos isso que a Ministra da EDucação quis fazer na escola, inicou um processo sem o ter testado, obrigou, em pleno 2º período, a dar inicio ao processo de avaliação dos professores, onde as ferramentas de avaliação nem sequer tinham sido elaboradas. Isso passa pela cabeça de alguém? Iniciou uma campanha, na comunicação social, onde tentou denegrir a imagem dos professores com o objectivo de virar pais e opinião pública contra os visados.
Será que o insucesso dos alunos tem relação directa com a avaliação dos professores? Penso que não. É claro que há maus profissionais, mas também o há nos diversos sectores da sociedade portuguesa. Ou será que em Portugal só se progride na carreira pelo afinco e competência no trabalho? "cunhas", "amiguismos", favores... E não me venham dizer que no sector privado isso não acontece.

Todas as indicações europeias recomendam que as turmas não tenham mais de 20 alunos, pois desta forma será possível efectuar um acompanhamento mais individualizado dos alunos.

Algo básico, aquecimento nas escolas, parece ridiculo. Imagina uma aula de EVT com os alunos a tremer de frio. Linhas rectas a sairem curvas.

Serão mesmo precisos 3º períodos de avaliação? Mais avaliação intercalar, mais planos de recuperação...

Os conteúdos programáticos estão desajustados, e em alguns casos completemente ultrapassados.

Enfim, tantos e tantos problemas...

E o Burro sou eu? ou neste caso. E a culpa é dos professores?

Vítor Pimenta disse...

Boa Noite Hugo

Eu sei que o texto (sobretudo o do Pedro Romano) é algo pesadão com os professores, mas é apenas como estalada, penso. A mesma que é necessária noutros sectores dos serviços dos Estado.

O próprio governo já admitiu os erros e a precipitação na introdução do processo de avaliação dos professores. O problema será a falta de vontade ou a parca receptividade com que as classes, e se calhar a parte mais (bem) instalada das mesmas, acolhem quaisquer mudanças. Como se diz nos textos, toda a gente fala da necessidade das mesmas mas são anos seguídos nestas guerras de carácter. Não há na realidade vontade per si. E deve entristecer qualquer cidadão ver que uma classe só reage quando espicaçada e da pior maneira quando as mudanças deviam ser exigidas por baixo e com sentido de estado(seja lá o que isso for).

E sim há problemas estruturais, mas pelo que demora a resolvê-los, não se pode penhorar em coisas mais humanas o futuro de gerações por meia dúzia de remendos nas paredes.

Anónimo disse...

Vítor, que eu saiba, ao contrário do que tu dizes, este Governo ainda não admitiu nada. E não admite, pela simples razão que é pouco ou nada aberto ao diálogo. Aliás tu que tens formação ideológica de esquerda, compreenderás que este PS nada tem a ver com o PS ao qual eu pertenci durante anos, que privilegiava o diálogo à imposição e à força. Até entendo e compreendo a necessidade de fazer reformas. mas não desta forma. Esta Engenharia Socrática, Vitor, acredita no que eu te digo, está à direita do PSD. Eu sei que é difícil dialogar. Mas em política é fundamental ter capacidade de diálogo. Depois há outro tiro que tens que corrigir: não confundas os professores com os sindicatos e as suas lutas. Sobre os prós e contras retirei o pensamento lúcido e profundo do Dr. Lobo Antunes, homem de ciência, cujos pensamentos leio com prazer. Dizia ele, na passada segunda feira, que os professores são uma referência moral na nossa sociedade e que a importante função do professor não pode ser utilizada com fins político-partidários. Afinal de contas estamos a discutir o futuro da nossa terra e a Educação é transversal a toda a sociedade. E dizia mais. O professor, ao contrário do que tem acontecido, deve ser tratado com dignidade e de acordo com a decisiva função que desempenha na nossa sociedade. mais palavras para quê???