Reclamo o meu direito à inércia que os tempos não são de outra coisa. Não me sinto inspirado hoje. É do calor, desta tineira, que faz ferver o horizonte aos olhos. Ninguém faz ponta com 35 graus célsius. Eu pelo menos não faço. Tenho o calor como desculpa até para procurar a brisa artificial de um carro com os vidros abertos. Parece-me até uma infâmia gastar gasolina, fazer chama no motor, num dia em que qualquer coisa que se toca parece que arde.
O calor traz também o absorto, a languidez, a lentidão. Não há motivos maiores que nos empurrem da sombra para a exposição solar, que não o desejo de dourar a pele como sardinhas na grelha, polvilhadas de sal e maresia. Poético e por aí fica. Mais uma vez, para mim. Cruzei-me, aliás ontem, em final de almoço, Avenida de Liberdade abaixo, com a CGTP, polícias e autorização do governo civil, a pé e em marcha lenta.
Lenta, sim. Ontem arrastavam-se, pelos motivos daquele dia e de sempre, estampados em cartazes a fazer sombra, das pernas à cabeça. A precariedade, os direitos e garantias, contra a flexisegurança “ que enche aos patrões a pança” arrastados, com eles, avenida acima. Arrastadas as palavras de ordem, arrastados os manifestantes. Arrastados – não é para menos, o calor faz com que ninguém os oiça. Dias estes, de luta, tão quentes e tão mal escolhidos.
O calor traz também o absorto, a languidez, a lentidão. Não há motivos maiores que nos empurrem da sombra para a exposição solar, que não o desejo de dourar a pele como sardinhas na grelha, polvilhadas de sal e maresia. Poético e por aí fica. Mais uma vez, para mim. Cruzei-me, aliás ontem, em final de almoço, Avenida de Liberdade abaixo, com a CGTP, polícias e autorização do governo civil, a pé e em marcha lenta.
Lenta, sim. Ontem arrastavam-se, pelos motivos daquele dia e de sempre, estampados em cartazes a fazer sombra, das pernas à cabeça. A precariedade, os direitos e garantias, contra a flexisegurança “ que enche aos patrões a pança” arrastados, com eles, avenida acima. Arrastadas as palavras de ordem, arrastados os manifestantes. Arrastados – não é para menos, o calor faz com que ninguém os oiça. Dias estes, de luta, tão quentes e tão mal escolhidos.
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