Imaginemos que há uma falta generalizada de professores de História e de Francês. O Estado então, decide aumentar o número de vagas de todos os cursos de Ensino, nas Universidades Públicas, para tentar resolver este problema. Isto, sem mexer substancialmente nas vagas para História e Francês. Resultado: ficamos com professores em excesso, sem a garantia de que aquelas áreas tenham as suas necessidades colmatadas.
É isto o que o Governo faz para resolver o problema da falta de médicos em algumas especialidades: aumenta o número de vagas gerais para o curso de medicina, que não deixa de ser uma medida populista, e esquece-se de reformular a abertura de vagas nos diversos colégios de especialidade. Resultado: médicos a mais em muitas especialidades que ninguém manda embora porque seria contraproducente e blasfemo com tanta "falta de médicos" por aí...
É isto o que o Governo faz para resolver o problema da falta de médicos em algumas especialidades: aumenta o número de vagas gerais para o curso de medicina, que não deixa de ser uma medida populista, e esquece-se de reformular a abertura de vagas nos diversos colégios de especialidade. Resultado: médicos a mais em muitas especialidades que ninguém manda embora porque seria contraproducente e blasfemo com tanta "falta de médicos" por aí...
7 comentários:
Então não percebo.
Mas alguém é obrigado a ir para a Universidade?
Mas há algum Estado neste ou noutro mundo que consiga prever as vagas de emprego de uma determinada área?
Eu defendo a lei da oferta e da procura para os cursos, ou seja, devem ser as próprias universidades a definir o que querem abrir, havendo, claro está um número mínimo de "concorrentes" ao curso.
Porque o que se passa neste momento é que continuamos a infantilizar os jovens que ingressam na universidade. Ninguém que entra numa universidade tem emprego ou trabalho garantido há muitos anos.
Também não entendo como há alguns inteligentes que defendem a não abertura de novos cursos de Medicina. Mas isto daria para escrever muito e não tou com pachorra agora para isso.
Fui.
Pá, prefiro ter médicos desempregados em Portugal do que a falta de médicos.
Em consciência e como ser humano, concordas ou não?
Esta é a questão que deve ser colocada a cada um dos cidadãos.
E esta, hein?
Caro Capitão América, como ser humano e consciente, posso concordar contigo. Mas não são é de médicos desempregados a questão. Vão haver mais cedo do que imaginas. O problema está na falta de condições para formação de mais médicos. Podes ter mais "médicos" mas de pior qualidade e por outro lado, também há uma má distribuição por especialidades. Há especialistas em excesso nalgumas áreas e noutras em quantidades realmente escassas. Aí está a grande questão por resolver. O ministério da Saúde deve forçar a abertura de vagas nas especialidades em falta e não abrir vagas para o Curso a torto e a direito. E acho que o mercado de cursos em Portugal é do mais especulativo que há.
Quando se começou a falar em falta de profissionais de saúde, tudo quanto era universidade, pública e privada sobretudo, abriram vagas e venderam sonhos ao preço da chuva. Agora há uma ruma de gente sem trabalho e essas instituições pouco querem saber disso.
Vítor, o problema do défice das especialidades médicas envolve o factor salarial que um grupo restrito de médicos especialistas com poder na Ordem dos Médicos e consequentemente no governo, benificia por ser em numero reduzido. Isto obriga os utentes do SNS a recorrer aos consultórios e clínicas privadas e a desenbolsarem quantias exurbitantes por exames e consultas de 15 minutos. E o Estado em vez de investir no serviço público, pelo contrário, ainda comparticipa nalguns casos, os utentes a recorrerem ao privados. Isto não é mais do que alimentar um ciclo vicioso cujos únicos benificiados são esse grupo restrito de médicos especialistas. E o argumento é sempre o mesmo, comparticipa-se o privado porque o SNS não consegue dar resposta a todos os utentes. Na minha opinião trata-se de um lobby bem montado e de um problema de mentalidade política. Tens de admitir que é ridículo. É um problema que vem do interior da classe médica e não apenas do governo, e que a meu ver também vos prejudica a vocês como futuros médicos, uma vez que, provavelmente muitos de vós ides ingressar em especialidades que não estavam nos vossos horizontes profissionais, por falta de vagas. E então porque é que o Governo não abre mais vagas nos colégios de especialidade??? É porque não têm dinheiro para pagar aos formadores??? Ninguém me convence disso. O que acontece é que o grupo restrito de médicos especialista por ser restrito tem um poder de negociação enorme com o governo,e assim, acumulam serviço no SNS, no privado e ainda recebem quantias avultadas para leccionarem essas especialidades nas faculdades de medicina. Um mero jogo de interesses. Vou fazer-te uma pergunta pertinente. Quantos professores tens que sejam exclusivamente professores? Olha para as outras licenciaturas e compara. Porque não investe o Governo na formação de especialidades médicas? Muitos médicos especialistas podiam dedicar-se exclusivamente ao ensino da medicina e com isso resolver este problema da falta de colégios de especialidade.
Relativamente à tua abordagem sobre a questão da formação de médicos de qualidade, eu penso que também é discutível. Na minha opinião, os cursos sejam eles quais forem e leccionados seja onde forem apenas nos fornecem as bases essenciais para ingressar no mercado de trabalho. Tenho a certeza que tu e todos os teus colegas quando ingressares no mercado de trabalho ides sentir que não estais preparados para o fazer, à semelhança do que acontece com outros recém licenciados em outras áreas. Há um desfazamento muito grande entre as Universidades e o mercado de trabalho. Quero com isto dizer que a qualidade como profissional desenvolve-se muito com a prática que nos obriga a recorrer à teoria e consequentemente a melhorar essa prática. Uma coisa é o que se sabe e outra é o que se executa. Tu podes saber muito de medicina e seres mau médico, tal como eu posso saber muito de enfermagem e ser mau enfermweiro, ou saber muito de história e ser um mau professor de história, ou vice-versa. Em Portugal parece que se criou um estigma de que o médico tem de ser um ente super-inteligente e dotado que tem de ter uma média final de ensino secundário superior a 18 para poder ingressar no curso, e que muitas daz vezes o faz pelo status social em detrimento da vocação. Não percebo qual é o problema de haver médicos no desemprego. Porque tem um licenciado em medicina de exercer medicina??? Há excelentes profissionais a exercer actividades em áreas que pouco ou nada têm a haver com a licenciatura de base em que se formaram. Quer tu queiras quer não, por haverem falta de médicos o poder de negociação é enorme, e quer tu queiras quer não a questão monetária está na base de não se terem aberto mais vagas em medicina, quer seja nos cursos gerais ou nos colégios de especialidade. Quando houverem médicos suficientes este ciclo tendencialmente irá quebrar-se e é disso que a ordem dos médicos tem receio. Para finalizar, penso que os grandes prejudicados são os utentes do SNS, essencialmente os de baixo status sócio-económico que não têm rendimentos para recorrerem aos seguros de saúde e/ou instituições de saúde privadas e que supostamente pagam impostos ao Estado para que este lhes forneça serviços de saúde públicos gratuitos. Bem, isto dava para horas e horas de conversa, mas fico por aqui. Abraço
Mas isso é perfeitamente normal. Não vejo qual é a novidade. Aconteceu isso praticamente em todas as áreas académicas. Não percebo por que carga de água não deveria também acontecer na saúde. Relativamente às especialidades, não estou por dentro, não posso falar. É provável acontecer o que estás a dizer. Mas, quanto a isso, a culpa não será da Ordem dos Médicos? E já agora, para que raio servem as Ordens? (já sei, vamos ter discussão pesada....)
Abel. Eu concordo em quase tudo o que dizes.Na forma como alguns aproveitam as fragilidades/falta de resposta do SNS para aumentar o recurso ao privado, então não acrescento mais nada. Seria tudo uma questão de ética, porque eu acho que uma actividade pode bem ter prática privada desde que não entrando em choque com o trabalho no CS ou Hospital.
Os lobbies da especialidade são, na verdadem bem mais fortes que os da Ordem em si. Por serem escassos e necessários na formação, muitos especialistas na área da oftalmologia por exemplo forçam a abertura de poucas vagas. Mas este é um mero exemplo.
Quanto a médicos que se dediquem apenas ao ensino, deves saber que é contraproducente com o próprio ensino médico que só tem razão de ser com prática clínica. Na minha faculdade, os médicos em geral fazem investigação laboratorial (mal paga devo dizer), ensino e fazem hospital. De resto, acrescento que grande parte deles em anos teóricos são biólogos, farmacêuticos, engenheiros biológicos, etc... O que é fantástico.
Se eu vejo mal em haver médicos desempregados? Acho tão mal como haver enfermeiros, advogados, trolhas, costureiras sem trabalho. Um curso de medicina é caro por cabeça. E os dinheiros públicos devem ser bem aplicados, num país como o nosso. E até não o são.
Caro Capitão América. As ordens servem para regulamentar a prática e proteger os seus profissionais contra caloteiros. Além disso, promovem formação, discussão ciêntífica e ética. Mais, existem sobretudo para garantir aos utentes/clientes de determinada profissão parâmetros de qualidade quer no exercício quer no ensino da arte
Caro Capitão América, esta situação de normal não têm nada, pois caso contrário não estavamos aqui a perder tempo com discussões de opinião, não acha? Quanto à culpa, ela é de muitos, começa nalguns médicos especialistas, continua na ordem dos médicos, passa também pela cultura da sociedade e culmina no governo que me parece o maior culpado, uma vez que não tem aquela coisa entre as pernas para resolver a raiz do assunto. É bom lembrar que hierarquicamente o governo está acima de qualquer ordem profissional. É o governo que dita a política e que legisla os sectores profissionais quer públicos quer privados. O problema é que muitos membros do governo também são membros das ordens, percebe? É aqui que reside o problema, os políticos e as ordem muitas das vezes negligenciam os valores éticos em detrimento dos benifícios pessoais/classes profissionais. Quer outro exemplo, o dos juízes e a ordem dos advogados, não é por acaso que este actual bastonário está debaixo de fogo. É o país que temos, do aparelhismo e do lobby.
Vítor quando falas em desemprego noutras áreas, eu concordo que não é bom, mas se neste momento há falta de médicos, o Estado tem de resolver o problema. Logicamente que eu não defendo que se gastem milhões de euros do erário público na formação de licenciados que no futuro não iram ter emprego. Mas se já existe licenciados em excesso em algumas áreas porque não se fecham essas licenciaturas??? Então o Estado já está a desperdiçar dinheiro na formação de alguns licenciados há muitos anos, certo?! Se estas licenciaturas actualmente inúteis para o país fechassem, com o dinheiro que se poupasse abrir-se-iam cursos de licenciatura que o país necessitasse. Para que continuamos a formar professores se a taxa de natalidade é baixa e cada vez há menos crianças nas escolas, por exemplo??? Eu sei que isso iria mexer com muita coisa, nomeadamente gerar desemprego nalgumas areas em detrimento da criação de emprego noutras, mas continuarmos nesta situação não é solução nenhuma. Definitivamente o Estado tem de ter aquela coisa entre as pernas para resolver esta crise social que estamos a atravessar. E já que falaste no caso dos enfermeiros devo dizer-te que o rácio enfermeiro/doente no nosso país está muito longe do ideal, simplesmente a nossa ordem não tem o poder da vossa e os nossos sindicatos são uma cambada de bananas que nem uma carreira profissional conseguem negociar com o governo. O Estado prefere fechar os olhos a esta situação. Todos os que estão por dentro da saúde sabem que há falta de enfermeiros no país e que em muitos casos não há falta mas estão mal distribuídos (assim como no caso dos médicos). É que os membros do governo quando adoecem, regra geral recorrem às instituições privadas onde existem infra-estructuras e recursos humanos adequados à prestação de cuidados de saúde, isto porque têm possibilidades económicas para o fazer. Quando isso não acontece recorrem ao público, mas como são "cães grandes" passam à frente do "zé parolo", não enfrentam anos de listas de espera por cirúrgias ou outros cuidados de saúde, para não falar de outras mordomias que têm só porque têm um status social elevado. Muitos nem têm noção das dificuldades pelo que passam os utentes e profissionais do SNS. Queres um exemplo, sabes quem administra os hospitais EPE´s??? Regra geral são equipas mistas de médicos enfermeiros e gestores/economistas cuja preocupação primária são os €€€€€, quando deveriam ser os ganhos em saúde. Enfim, mais questões que dariam horas de conversa, mas fico por aqui. Abraço
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