sábado, 26 de março de 2011

os búzios

abro o frigorífico a falar com os botões, desdenhando do país por melhores dias, que as rosas estão murchas ou não tão bonitas como eram, e o povo não está para filosofias. caído o governo, a geleira, como diria o senhor ilídio aniceto, daqueles velhotes bons da infância, retornado e bonacheirão, foi invadida por um cheiro acre de fungo sobre todos os outros aromas. não estão as prateleiras fartas e culpo o rochefort semiaberto (sim, rochefort de marca branca, não me digo precário, ainda que já não espere o 13.º mês), mas não vem dali. o cheiro imaterial aos olhos apodera-se da virtude das outras coisas, o vinho hermeticamente fechado, a cerveja de abertura fácil e um fartote de lambices de marca branca e de levar à boca directamente ou de meter no pão. não é o alho nem as cebolas, nem o sumo de 2 dias, nem entranhas de galinha que não as há, nem o pastel de tentúgal. nas gavetas do fundo, ignorada demasiado tempo, uma língua de plástico denuncia um saco com uma bola de crosta esverdeada dentro. uma laranja podre. é pá, que nojo. lixo.

3 comentários:

Anónimo disse...

fenomenal.mesmo.parabéns

CL disse...

Gosto... Muito.

Anónimo disse...

laranja podre, rosas murchas mas não tão bonitas, é sempre a mesma merda contigo, uma no cravo outra na ferradura. estamos no meio de rosas podres que fazem este país cheirar mal, e sem se conseguirem manter de pé e de picos afiados agarram-se a tudo e todos e arrastam-nos para o abismo, é deste cenário que temos que sair. tu deitas a laranja ao lixo, as rosas deitaram portugal. Fica no meio do roseiral, talvez não fiques muito mal.

Zé Carvalho