Quão insular será o Sr. Silva?

No dia 31 de Julho de 2008, Cavaco Silva, o então (e actual) Presidente da República, fez uma declaração ao país para "alertar os portugueses" sobre o Estatuto Político-Administrativo dos Açores. Poucos compreenderam aquela atitude e eu, naquele tempo, escrevi um apontamento sobre o assunto numa outra casa. Como português e açoriano senti um particular mal-estar com aquela atitude. Para além do ilustre presidente sobrevalorizar um assunto tão técnico e, digamos, pouco interessante, o que verdadeiramente incomodou foi o insulto feito em directo a todos os portugueses (por não utilizar o tempo de antena para denunciar outros assuntos, como por exemplo: a crise, o crime "laranja" no BPN ou as contas da Madeira) e aos açorianos, em particular (por serem usados neste espectáculo mediático).

No entanto, já que o assunto está a tender para o âmbito insular, convém destacar a diferença de "tratamento" que o Presidente da República dá (e deu) às Regiões Autónomas. Engana-se quem pensar que Cavaco difere na abordagem que faz às "questões" relacionadas com os arquipélagos portugueses por qualquer trauma vivencial ocorrido com naturais daqueles sítios. Não. A questão é mesmo política. Cavaco Silva é o mais político dos políticos portugueses. Se trata com diferentes modos os assuntos relacionados com estas regiões é porque a sua estratégia e pensamento político assim o determina. Embora se note, claramente, que Cavaco Silva não "morra de amores" por Alberto João Jardim, Cavaco sabe, certamente, o que implicaria ou implicará para o seu Partido Social Democrata um justo ataque mediático e político ao Governo Regional da Madeira por parte da Presidência da República. Basta atendermos à data em que o actual Presidente da República fez a inqualificável declaração pública atrás citada. Foi em 2008, meses após ter sido notíciado que a dívida da Madeira em 2005 atigia o valor de 1,75 mil milhões de euros e que a dívida dos Açores iria estabilizar nos "parcos" 285 milhões de euros.

Hoje, basta adicionar quase dois mil milhões de euros escondidos pelo Governo Regional da Madeira à dívida anterior, o desvio de fundos destinados à ajuda das vítimas do temporal para festas e parcerias público-privadas, e os contantes dislates de Alberto João Jardim, para ser quase obrigatória uma declaração pública de Cavaco Silva. Mais grave se torna o silêncio institucional do Presidente da República quando se sabe que Cavaco Silva tinha tomado conhecimento da gigantesca dívida da Madeira em Julho e que esta, a dívida, poderá estar perto dos oito mil milhões de euros. Reconheço que Cavaco Silva é um dos piores governantes que alguma vez pisou o palácio de Belém mas já incomoda tanta viscosidade política.