terça-feira, 25 de setembro de 2012

ventos espanhóis

espanha25S

Acompanho, neste misto de entusiasmo doentio e apreensão, a escalada de protestos e de degradação da "paz podre" em Espanha. "Paz podre" porque é sociedade e estado de nações que, metáfora da própria Europa, se manteve unida, após uma guerra civil e uma ditadura bárbara, com as diferenças disputadas pela boca, graças à barriga cheia e ao sonho da democracia. A verdade é que ali como noutras nações da eurozona, com ou sem agenda obscura, a austeridade tem tornado a utopia da moeda única e da união europeia numa desgraçada desilusão. Neste contexto, abrem-se brechas do nacionalismo, mais ou menos legítimo, como acontece na Catalunha e que se pode arrastar ao País Basco ou mesmo a Galiza. Cresce ali o anti-centralismo, como medra fora o eurocepticismo.

Por outro lado o medo e a incerteza vem tornando as mentes permeáveis ao pensamento mais radicalizado e normalizam ideias que há muito julgávamos enterradas na catarse da Segunda Grande Guerra. Ainda no outro dia assistia a este vídeo em que um grupo de neonazis gregos (ó, a ironia) destruía as barracas de imigrantes numa feira, perante a passividade generalizada. Essa indiferença que se via nos alemães comuns quando as SS  invadiam lojas e lares judaicos, antes e durante o último grande conflito mundial. E a Alemanha de então era moderna, culta e vanguardista.

Espero que este sentimento intestinal de uma tempestade perfeita que se forma, seja contrariada pela esperança de que temos uma sociedade europeia feita de gente bem formada, com consciência democrática e que resolverá tudo com instrumentos legítimos. Ainda que o estômago teime em sobrepor-se à razão.

2 comentários:

Paulo Pinto disse...

Pois, a tentação do extremismo e a procura de «culpados» para descarregar a frustração são os venenos que podem perverter a indignação que é justa e justificada. Tantas vezes nos lamentamos de ser um povo passivo e fatalista; neste momento, em que gregos e espanhóis depressa descambam para a violência e o extremismo, essas nossas características acabam por nos proteger desses excessos. Mesmo com toda a raiva que se sente e que se viu nas ruas ns últimas semanas, as pessoas souberam conter-se. Mas a mensagem para quem manda (?) está a ser bem clara, mais clara do que se houvesse por aí violência generalizada.

Anónimo disse...

Por cá beijam-se os polícias, parece que nuestros hermanos não estão pelos ajustes e tentam torcer o pescoço aos manifestantes.
Até parecem resquícios do franquismo.