O grito de Edvard Munch |
Desassossegar precisa-se,
desassossegar é imperativo, desassossegar deverá ser a bandeira erguida em cada
mão, acordando, os que pela bandeira do sossego tem sido levados pela mão há demasiado
tempo. Há cerca de três anos tomei conhecimento da
figura de Alexis de Tocqueville, e pela sua mão foi escrita a seguinte frase
que nunca esqueci; passo a citar: “Os
excessos cometidos em nome da liberdade podem fazer dela odiosa, mas não
poderão ser obstáculo para que ela seja bela e necessária.”.O desassossego
necessário é aquele que se levanta como crença, como crença na democracia e que
não poderá ser deturpada seguindo aquilo que abusivamente e ilegitimamente se
comete em seu nome. O apelo do desassossego só fará sentido se todos, em vários
sentidos, o apropriarmos.
Aqui, direciono-o, especialmente aos jovens, que como
eu, vivem hoje entre as malhas que entrelaçam a incerteza trazida pelo
desemprego e as teias da descrença generalizada nos decisores políticos. Esta
descrença deve-se, em primeiro lugar, ao discurso politico que na sua maioria
se rege por fórmulas especialmente delineadas para dizer pouco em muitas
palavras tão enfadonhas e repetitivas que esgotam a paciência a um santo. E em
segundo, à construção mediática desse discurso político como vindo de lugares
excelsos como um qualquer Olimpo e proferida por endeusados seres com poderes
de oratória incompreensíveis ao comum mortal cidadão. Não o digo só aos jovens mas é preponderante que estes tenham na decisão um lugar
cativo porque é a eles que mais afecta o flagelo do desemprego. Não podemos deixar que a descrença na "classe política" nos afaste da esfera do politico. O ser humano em sociedade é por natureza politico, a politica diz assim respeito a qualquer processo de administração, de organização, de tomada de decisão. Perceber a palavra política como apenas e só a actividade profissional de um político é negar completamente o direito ( e até poder) mobilizador e participativo que a cada cidadão pertence. Entristece-me, profundamente, neste sentido ouvir cada vez mais por onde passo impregnado nos discursos juvenis "não me interessa nada a politica". Minha gente, isto é uma prenda de mão beijada para os senhores dos inquestionáveis poderes instalados.
Segundo o INE, a taxa de desemprego nos jovens
dos 15 aos 24 anos de idade era no 1º trimestre de 2012 de 36,2%, pelo que no trimestre homólogo de 2013 se situou nos 42,1%. Com os indicadores de
crescimento económico decadentes e a dependência externa tudo aponta para uma
contínua subida do desemprego. E nós? Continuaremos a apontar para contínuo
sossego? Não. Não podemos. O desemprego tem efeitos desastrosos. A nível
económico conduz ao empobrecimento e rupturas familiares. Ao nível social à
exclusão. Ao nível pessoal a graves crises identitárias com repercussões
psicossociais. O trabalho é um direito e participar de forma organizada em
reafirmá-lo um dever.
Por isso, aos jovens, a todos, apelo à
organização, à vontade e ao desassossego de ousar participar activamente no
debate, no associativismo, nos espaços públicos das discussões localmente situadas, sempre interrogando criticamente as decisões que afectam as nossas vidas. Está visto que as organizações de poder local e central falham, está visto que as supranacionais falham ainda mais, está visto
que a Europa falhou. Cabe-nos pensar em conjunto, localmente, deixando os
grilhões partidários e a apatia do desinteresse para assumir o desassossego da
participação cívica dando um safanão a quem nos tem incutido a sonolência. Para além disso, e citando o pintor francês Eugène Delacroix, "o segredo para não ter tédio é ter ideias." Ter ideias, dar-lhe corpo e forma, e abri-las ao espaço público da discussão, abre caminho a estratégias, abre caminho ao planeamento, abre acima de tudo a possibilidade que a discussão livre, a maior arma que a democracia nos trouxe, permite - a inclusão.
3 comentários:
Ena! tantos comentários!!!
Ena! tantos comentários!!! O anónimo fez um único comentário de valor! Nota-se que a sua vida deve ser muito vazia,muita frustração implicita, tenho pena de si...
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Zé D'asnela
Mas porque lhe dão trela? Está claro que ele não estava interessado em comentar, mas apenas em comentar os possíveis comentários.
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