quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Barragens, para que te quero?

O raciocínio é simples: os autarcas de Basto preferem ganhos económicos a curto prazo em detrimento de tudo o resto. É uma tautologia local, ou seja, independentemente da personalidade, e demais corpo, que ocupe o cargo (presidente) a posição é sempre a mesma: queremos as barragens, haja o que houver, aconteça o que acontecer. 
O ritmo discursivo é conhecido: barragens, elas não são benéficas mas são necessárias para região; munícipes, os ganhos económicos, o desenvolvimento local e a energia, ai, a energia, sobrepõem-se ao embuste rendeiro do Plano Nacional de Barragens e à destruição que ela prevê para Basto
Desta vez foi o atual, e recém-eleito, presidente da Câmara de Ribeira de Pena, Rui Vaz Alves, a confirmar a vericidade da tautologia atrás enunciada. Em declarações à comunicação social, Rui Vaz Alves destaca que as barragens são uma "mais-valia" para Ribeira de Pena, do ponto de vista "económico e financeiro", mas fez questão de frisar que não quer que ela se concretize "a qualquer custo e de qualquer forma". 
O (grande) problema é que as barragens previstas para o Tâmega não podem ser relativizadas e muito menos justificadas com o argumento de que os seus malefícios, custos, vá, possam ser eliminados ou menorizados. O mal, o custo, destas barragens é tremendo, seja à cota X ou Y, seja com investimentos pequenos ou graúdos. Como apontamento final, deixo uma frase batida: se as barragens trouxessem, por si só, desenvolvimento e progresso, elas há muito que estariam encostadas ao litoral ou, então, o Interior português estaria a ser vendido como um caso de estudo do dinamismo económico. Os factos andam por aí. É vê-los.

13 comentários:

Anónimo disse...

É naturalmente inquietante que a posição de todos os autarcas relacionados com esta temática seja, como parece ser, unanimemente a favor da construção de barragens.

Daria um bom trabalho jornalístico tentar perceber como é possível numa região que abrange vários concelhos e interesses, onde a escassez dos recursos de água doce para consumo doméstico, comercial, agrícola e industrial é praticamente nulo, nenhum dos seus representantes colocar reservas relativamente à destruição do curso natural de um rio dando lugar à construção de albufeiras potencialmente devastadoras para o meio-ambiente.

Seria oportuno esmiuçar estes personagens no que respeita às suas convicções sobre as mais-valias que este tipo de plataformas de produção energética e reserva de água trarão para as suas visões integradas do futuro da região. Emprego não será certamente e energia mais barata muito menos, se for tido em linha de conta que o sector energético nacional é gerido por meia-dúzia de empresas, e o eléctrico em particular então nem se fala. Para nem me atrever a acrescentar o da construção e toda a linha de financiamento que envolve o sistema bancário e bolsista. Bem vistas as coisas, isto só ao de leve já dá um bolo e uma teia de interesses que nunca mais acaba.

O que me preocupa nestes seres políticos, é que independentemente do peixe que lhes for vendido, e dos argumentos a favor ou contra que lhes sejam apresentados, já há muito se deixaram vender ou enganar, comportando-se como autênticas marionetas manobradas por grupos económicos altamente poderosos e enraizados no tecido social, económico e político. Promessas hão-de haver muitas, de parte a parte.

Atenciosamente anónimo das 15:01

Anónimo disse...

E agora o que fazer? Vamos limitar-nos a denunciar e a difundir a mensagem do malefício das barragens e a fraqueza dos políticos? Vamos assinar petições umas atrás das outras? Recorrer ao tribunal constitucional? Haverá justiça em Portugal com capacidade para discernir e tomar uma decisão sensata nesta matéria e que defenda o interesse dos cidadãos? O parlamento está interessado em discutir o plano energético?

Duvido. E honestamente penso que esta é uma batalha há muito perdida. Os políticos não têm tanto poder como julgamos para decidir sobre as grandes questões relacionadas com o futuro das sociedades. Perderam-no, proporcionalmente há desconfiança crescente dos cidadãos em relação a si próprios. E a sua falta de poder gera nas suas acções políticas atitudes de procura de autoridade e influência perante o cidadão mais comum, como forma de camuflarem as suas incapacidades e fragilidades. Isto constroi às suas voltas a imagem de personnas importantes a quem se procura obedecer e bajular, ainda que se odeie e despreze. E no outro extremo geram a repulsa e a inveja.

E por quê? Porque nós cidadãos também não nos respeitamos a nós próprios enquanto comunidade. Por que também tomamos posições, decisões e acções em função dos nossos interesses mais íntimos, ainda que pareçam nobres e legítimos aos nossos olhos, e perversos aos olhos de outrem.

Caríssimos, os políticos são o nosso melhor espelho. Vivemos numa mentira absoluta. A meu ver, temos de batalhar agora para que outras barragens não sejam sequer uma hipótese no horizonte.

A nação tem que evoluir por dentro. Em cada um de nós há que fazer uma purga. Há que lutar muito para acabar de vez com a ignorância, que é o maior mal de todos. Há que investir muito e muito na educação, na cultura, na ciência, na tecnologia, e concomitantemente, na construção de um ser-humano mais sensível para o bem-comum. Se este trabalho for feito, muito do mal desaparecerá, inclusive os maus políticos e os sistemas capitalistas controladores de grandes massas.

Atenciosamente anónimo das 15:01

Marco Gomes disse...

Não penso que a luta contra o Plano Nacional de Barragens, principalmente o que nos reserva para o Tâmega e seus afluentes, seja uma luta perdida. Pelo contrário, dada a situação (financiamento restrito e finanças públicas depauperadas) há, de facto, uma oportunidade única para intensificar a luta contra estas barragens. Sem dinheiro, com as rendas energéticas na mira da opinião pública e com a realidade (desenvolvimento pouco significativo através da existência de barragens) é o tempo ideal para desconstruir o mito deste plano. Obviamente, que é algo difícil, quando se tem todos os poderes, legítimos e ilegítimos, em contra maré, desde as finanças ao senhor feudal. Mas é uma luta imperativa, para travar o mais que possível atentado económico, ambiental e social que prepararam para esta região.

A solução que dá é a ideal. Demora tempo mas é este o caminho.

Anónimo disse...

Tendo em conta o seu argumento tenho de concordar consigo quanto ao timing de intensificação da luta. Há no entanto algo que me preocupa. Os dados apontam há muito para um problema grave de sustentabilidade energética no país, sobre o qual o anterior executivo, para o minimizar levou a cabo um plano energético que apostou em energias alternativas, como é o exemplo das eólicas, ainda que os processos contratuais celebrados tenham sido desastrosos ao colocarem os riscos financeiros do lado do estado.

Agora porém, com a EDP (monopolista do sector) vendida ao Estado chinês, onde o Estado português não tem cota accionista que potencie algum poder executivo, não vejo como pode projectar-se da parte de governos algum plano energético que se coadune com o interesse nacional.

Resta saber se as empresas privadas do sector se vão continuar a pendurar nos financiamentos à custa de dinheiros públicos para alargarem o seu património e a sua esfera de influência sem que sejam exigidas contrapartidas (por exemplo, energia mais barata, ou redução das rendas), ou se os governos vão manter esta máscara de cedência à pressão do sector, tomando posições onde é invocado um falso interesse nacional.

A menos que surja interesse de empresas estrangeiras do sector em investir cá, nestas condições dificílimas no que diz respeito ao mercado de concorrência, não vejo como possam existir políticas, que traduzidas, tragam benefício para os cidadãos, ou que solucionem a nossa insuficiência energética.

Por outro lado temos diversas formas de produção de energia menos danosas que não estão a ser devidamente exploradas. Onde andará a investigação e a tão desejada ligação do ensino superior ao sector empresarial? O que foi feito do plano tecnológico? Será que que estas relações dependem assim tanto de orçamento, ou apenas de um pouco de organização e vontade política? Não seria importante canalizar os recursos do ensino superior para combater e solucionar as nossas maiores lacunas de sustentabilidade. Não teremos já licenciados a mais nas áreas do ensino, do direito, da saúde...? Alguém está preocupado em fazer uma reforma do ensino superior que não se limite a cortar o financiamento às universidades?

Muitas questões a serem refletidas

Atenciosamente Anónimo das 15:01

Marco Gomes disse...

Quanto à questão da energia, deixo aqui os quatro pilares de desenvolvimento que a UE apostará (ou seja, financiará):
1. Energia distribuída (água, luz, vento, biologia, etc.) -reduzir o consumo de carne;
2. Transformar cada edifício em produtor de energia -também promover a rentabilização da energia melhorando o isolamento dos edifícios;
3. armazenamento de energia via hidrogénio -àgua-;
4. redes inteligentes de gestão e distribuição de energia.

Com os desenvolvimentos tecnológicos que se avistam, o paradigma das energias renováveis se fortalecerá. Contudo, há que quebrar os "pauzinhos" da engrenagem que tornam o sector energético em Portugal um oligopólio (por definição, beneficia uns poucos em detrimento de muitos). A revolução energética passará por isso e por políticas locais que promovam a sustentabilidade local, via autossuficiência energética por via da boa gestão e partilha da energia obtida de fontes renováveis e com preocupações sociais e ambientais.

Por fim, apenas um comentário à sua interrogação: "Não teremos já licenciados a mais nas áreas do ensino, do direito, da saúde...?". Tendo em conta aquilo que penso que seja o Ensino Superior e os seus objectivos, nunca teremos licenciados a mais. Há a formação e a "formatação". Devemos formar ou "formatar" pessoas para o dito "mercado de trabalho"? Dito de outra forma, devem as necessidades circunstanciais do "mercado" determinar a oferta da formação superior? Eu penso que não.

Anónimo disse...

Também concordo consigo na parte da engrenagem. Cada casa, prédio, condomínio podem e devem funcionar como células produtoras de energia com vista à sua sustentabilidade, em vez de existir um conjunto de células (centrais de produção) a gerar e a distribuir a energia pelo território. Não questiono a exequibilidade de tudo isso, pelo contrário, estou convicto que isso é já actualmente possível. Mas tudo isto é uma questão de políticas onde prevalece um loby extremamente fortalecido e protegido. Já existem moradias que produzem energia solar, mas por lei, são obrigadas a vendê-la primeiro para a rede para depois lhe ser reduzida a factura de consumo energético. Ora por este caminho não se pode falar em auto suficiência, mas antes numa manutenção da dependência do sector. Ainda que esse seja um caminho perfeitamente plausível , nas actuais condições nacionais de mercado energético não consigo perspectivar melhorias a curto-médio prazo. Este sector necessita urgentemente de mercado de concorrência com novas empresas, e também de alguma regulação. Mas quem tem poder para isso na conjuntura presente?

Atenciosamente anónimo das 15:01

Anónimo disse...

Relativamente ao ensino superior julgo que não interpretou bem. Sobre este assunto eu não falei em limitar, mas sim gerir. Longe de mim pensar em extinguir a possibilidade de licenciar pessoas nas áreas a que me referi, apenas me parece que existem demasiadas universidades e politécnicos públicos e privados a criar excedentes altíssimos. E refiro a palavra excedente porque o mercado de trabalho pura e simplesmente não absorve este diplomados em ofícios nos quais possam rentabilizar os seus conhecimentos. Sobre a pergunta, se as necessidades circunstanciais do "mercado" devem ou não determinar a oferta da formação superior. A minha resposta é que não têm que determinar a oferta, mas sim geri-la. Sobre o ensino superior público (o qual me referi) acho que pode e deve gerir as suas vagas, e aqui não falo em função do mercado de trabalho, mas sim das necessidades do país. Estamos a falar de dinheiros públicos que têm que ser gastos de acordo com as necessidades num horizonte a médio-longo prazo. Se temos um problema de recursos e de financiamento temos de saber adaptá-los e canalizá-los de modo que se traduzam em mais-valias futuras. Por outro lado posso lançar também uma questão, qual é o critério que existe que estabelece que as universidades têm que ter x números de vagas em determinados curso em função de outros? O que é que determina o quê? Qual é o actual critério?

Atenciosamente anónimo das 15:01

Anónimo disse...

Se falamos em vontade e intenção então parece-me que ninguém está obrigado a concorrer a cursos de ensino, direito ou saúde, isso sim seria "formatar". As pessoas são livres de concorreram para as licenciaturas que desejam, podem é ter mais ou menos vagas disponíveis. Temos de ser honestos, o sistema até pode oferecer a possibilidade de formação que todos desejam ou almejam criando oportunidades em função de notas de classificação, mas nem todos os alunos são admitidos nos cursos que perspectivaram para o futuro. Muitos ficam de fora, outros acabam por se licenciar em áreas que não se enquadram com as suas primeiras escolhas, e outros ainda, repetem exames anos seguidos a fim de conseguirem nota que lhes permita a admissão em determinados cursos. Não me parece que reduzir vagas em determinados cursos para aumentar outros se possa chamar de "formatação", porque se pensarmos bem, então ela já existe ao não permitir que os supostos mais "fracos" sejam admitidos em licenciaturas com nota média de admissão elevada, ainda que sejam essas as suas expectativas.

Atenciosamente anónimo das 15:01

Marco Gomes disse...

"Este sector necessita urgentemente de mercado de concorrência com novas empresas, e também de alguma regulação. Mas quem tem poder para isso na conjuntura presente?"

Este é um sector particular, é um monopólio natural. Sublinho o conceito "monopólio". Assim, a solução não será um "mercado de concorrência", mas sim ser nacionalizado. Defendo que todos os monopólios naturais devem estar sob alçada democrática, dada a sua natureza. Retomando, as consequências da privatização dos principais "players" nacionais foram a alta dos preços, a precariedade energética, o sub-investimento e os lucros recordes. A nacionalização da produção e da distribuição centralizada de energia responderia, assim, à necessidade de reestruturação rápida do sector, para melhorar o serviço, permitindo a implementação de políticas estratégicas nacionais, aproveitando a importância deste sector para toda a economia nacional, baixando os custos para o consumidor (no mesmo espírito com que se faz com a boa gestão da distribuição da água). Sublinho que defendo a nacionalização da produção e da distribuição centralizada de energia, deixando uma oportunidade comercial à produção e a distribuição local da energia. Não vejo outra forma de "regular" a coisa.

Marco Gomes disse...

"Relativamente ao ensino superior julgo que não interpretou bem. Sobre este assunto eu não falei em limitar, mas sim gerir"

Eu fui claro: determinar, ou seja, se as necessidades circunstanciais do "mercado" devem ou não limitar, condicionar ou gerir (exercer o controlo sob) a oferta no ensino superior. Quando o anónimo afirma haver "licenciados a mais" ou "excedentes" subentende-se claramente o pressuposto de que há pessoas instruídas a mais em determinadas áreas do conhecimento porque, parafraseando-o, não há "mercado de trabalho" que as absorva. Esta é uma visão do ensino, e em particular do ensino superior público, que não partilho nem defendo. A necessidade mais premente do país é a instrução do seu povo, dando-lhe as armas do raciocínio, do livre pensamento, do conhecimento, da ética e da aquilo que é ser gente. Quem possuir estas armas não terá dificuldade em aprender qualquer técnica. O Estado pode é gerir a oferta educativa tendo por base aqueles pressupostos e as áreas estratégicas que, através de um plano a médio a longo prazo, pretende incentivar. Por isso é que existem Universidades (ensino com uma forte componente teórica e orientada para a investigação) e Politécnicos (ensino com uma maior componente prática orientado para as necessidades laborais) públicos. Por outro lado, a formatação é afunilar a instrução mediante, e apenas em função de, os requisitos do mercado de trabalho, instruindo para trabalhar, não para pensar ou relacionar. Como depreenderá, o Ensino Superior existente tem muitas falhas (principalmente ao nível dos seus conteúdos programáticos) e tem com o processo de Bolonha o seu auge: padronizar o ensino para melhor o vender. No entanto, este processo teve aspectos negativos e outros positivos.

A aplicação racional e estratégica do dinheiro público é importante. Também o é no Ensino Superior. É neste assunto que entra as vagas. O Estado deve ter uma estratégia a médio e a longo prazo no Ensino Superior que deve balancear os objectivos nobres do ensino e os recursos humanos que necessita para as suas áreas económicas estratégicas. O limite de vagas deve ser em função dos seus recursos humanos e materiais, sempre em conformidade com um plano estratégico para aumento do esclarecimento da sociedade e não exclusivamente ao sabor dos ventos circunstanciais do deus mercado que é, por natureza, redutor e inibidor de uma sociedade esclarecida. As vagas nos cursos são definidas pelo Governo em diálogo com as entidades públicas competentes no assunto. As "notas de entrada" são determinadas pelo último elemento que entra, mediante o número de vagas e num concurso competitivo, ou seja, se houverem 100 vagas e a nota de entrada do curso for de 16, significa que o último a entrar entrou com a nota de 16 valores.

Anónimo disse...

Marco, há uma diferença substancial entre a natureza dos seus comentários e a natureza dos meus. Enquanto o Marco projecta neles os seus sonhos e a sua visão integral daquilo que entende que seria o melhor para os cidadãos, eu por outro lado, tenho procurado fazer um exercício de projectar um futuro também melhor para os cidadãos, mas partindo da conjuntura em que vivemos e com a qual, para mal de todos ou de grande parte, temos de conviver.
Certamente que a conversa seria outra se me permitisse a viajar um pouco pelos meus sonhos e as minhas convicções mais profundas e esquecesse a realidade em que vivo. Talvez poucas ou nenhumas fossem as nossas divergências.

Sobre o conceito de "monopólio natural" que enumerou também concordo consigo quanto à necessidade de tê-lo sobre a alçada democrática. Considero que o Estado deve ter a cota maior no mercado do sector de modo que lhe permita ser a entidade reguladora por excelência, porém, não considero que esse conceito inviabilize a existência de empresas de iniciativa e capital privado, desde que não se pendurem nos financiamentos públicos, se é que faço entender. Há no entanto algo que não nos podemos esquecer, a EDP foi recentemente vendida (mal vendida diga-se), e a curto-médio prazo nenhum Governo eleito terá capacidade para a nacionalizar.

Sobre o que escreveu "Sublinho que defendo a nacionalização da produção e da distribuição centralizada de energia, deixando uma oportunidade comercial à produção e a distribuição local da energia". É precisamente neste âmbito que me referia ao mercado de concorrência, não em ter grandes empresas privadas a concorrerem com o Estado ou com a EDP privatizada, até porque duvido que nestas condições monopolistas isso fosse possível.

A minha perspectiva é sobretudo na produção de energia para consumo doméstico ou condómino, como falámos em comentários anteriores.
Penso que necessitamos de mais empresas de produção de energias renováveis ( solar, eólica) que tenham a capacidade de produzir a tecnologia e os equipamentos capazes de transformar os lares em células de energia auto suficientes. Julgo haver na capacidade de legislar sobre o sector, mecanismos que permitam que o interesse nacional seja salvaguardado, isto se houver vontade e capacidade politica.

Por outro lado, há a comparação que faz com o sector da água, mas convém não esquecer que a água é um recurso natural que não tem custos de produção, já existe no meio ambiente. Apenas necessita de ser tratada e distribuída em condições de consumo para a rede.

Anónimo disse...

Relativamente à questão do ensino superior quando falo em excedentes convém ler a linha de raciocínio que delineei. Longe de mim considerar que existem pessoas instruídas a mais, teria muito orgulho em viver num país onde a população fosse toda licenciada, mestrada ou doutorada. Eu compreendo perfeitamente o seu ponto de vista e até o subscrevo, mas mais uma vez tenho de lembrar que o Marco elabora os seus comentários com base nos seus sonhos, enquanto que eu procuro partir da realidade que conheço.

O Marco diz que "As vagas nos cursos são definidas pelo Governo em diálogo com as entidades públicas competentes no assunto". Mas repito a pergunta, qual é o critério? É que se existe algum ele não é claro, nem demonstra nenhuma estratégia ou plano sustentável.

Não contesto que o ensino superior deve preparar as pessoas para o raciocínio e para pensamento livre, mas a liberdade começa na escolha daquilo que se quer estudar ou daquilo que se subentende que são as nossas melhores competências e expectativas. Num sistema ideal, a qualquer aluno que concluísse o secundário com nota positiva deveria ser-lhe dada a tal liberdade de escolha e a oportunidade de elevar os seus conhecimentos em qualquer licenciatura à sua escolha, não sujeitar essa escolha ao que diz ser um "concurso competitivo", porque na minha perspectiva isso é desde logo limitador e "formatador" da liberdade no ensino.

O sistema ao não permitir que seja de outro modo, aquilo que procurei projectar no meu comentário era que, em função das necessidades do país, e reitero, necessidades do país a médio-longo prazo, e não as necessidades do mercado de trabalho, o número de vagas fosse gerido. Quando falo em gestão de vagas não me refiro a reduzir o total de vagas ou a extinguir as mesmas em determinados cursos, apenas reduzir ou aumentá-las nos mesmos em função daquilo que o próprio Marco escreve - "O Estado deve ter uma estratégia a médio e a longo prazo no Ensino Superior que deve balancear os objectivos nobres do ensino e os recursos humanos que necessita para as suas áreas económicas estratégicas. O limite de vagas deve ser em função dos seus recursos humanos e materiais, sempre em conformidade com um plano estratégico para aumento do esclarecimento da sociedade e não exclusivamente ao sabor dos ventos circunstanciais do deus mercado que é, por natureza, redutor e inibidor de uma sociedade esclarecida." Aqui estamos totalmente de acordo.

Se ler bem eu não digo somente que não há mercado de trabalho que absorva os licenciados, o que eu digo é que não há mercado que as absorva em ofícios nos quais possam rentabilizar os seus conhecimentos. É diferente defender a formação de pessoas para que possam potenciar, rentabilizar e partilhar os seus conhecimentos e o seu pensamento, ou até investigar num ofício que lhes seja, pela sua natureza, próximo da sua área maior de conhecimentos e de formação, do que defender que se deve formar pessoas para trabalhar limitando-as pelos seus conhecimentos a um número restrito de profissões com empregabilidade.

Atenciosamente anónimo das 15:01

Anónimo disse...

Por outro lado, sobre o que diz "A necessidade mais premente do país é a instrução do seu povo, dando-lhe as armas do raciocínio, do livre pensamento, do conhecimento, da ética e da aquilo que é ser gente. Quem possuir estas armas não terá dificuldade em aprender qualquer técnica."

Desculpe mas não consigo ter essa visão tão romântica do ensino superior. Em primeiro lugar existem as expectativas da pessoa, os seus talentos e as suas fragilidades e há depois o conhecimento, que é hoje tão vasto, tão diversificado e tão complexo em pormenorização, que o ser-se licenciado capacita tecnicamente para muito pouco, quanto mais para achar-se que capacitará alguém para aprendizagem de qualquer técnica. É por esta razão que o mesmo se encontra estruturado em áreas de conhecimento específicas cada vez mais especializadas por se tornar difícil ao cérebro humano absorver tanta informação.

Os filósofos (no sentido literal da palavra) da era antiga, teriam muito mais dificuldade hoje em ser considerados como tal, face à quantidade de conhecimento produzido pela humanidade. E sobre a ética e o ser se gente, o que não faltam por este país fora são pessoas com instrução superior sem o menor sentido do que estas palavras significam. Parece-me que sobre esses aspectos existem outros factores bem mais determinantes.

Atenciosamente Anónimo das 15:01