terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Quebrar o silêncio

Um dos destaques dos telejornais do meio-dia de hoje, dizia respeito a uma notícia, que confesso, profundamente chocante. Um jovem de 15 anos suicidou-se por alegadamente ser vítima de bullying por parte dos colegas da escola EB 2, 3 de Palmeira, onde já estaria sinalizada a situação e o aluno era acompanhado pelo psicólogo.

Digo profundamente chocante pelas duas razões mais prementes: em primeiro lugar a tenra idade do jovem residente em Adaúfe, Braga; e a segunda pelas próprias razões, a confirmarem-se, que desencadearam o acto de pôr fim à própria vida - despoletado pelo tratamento de jovens da mesma geração. 
O bullying enquanto fenómeno traumático passível de resultar em fins trágicos como o de este jovem de 15 anos não é nada de novo nas sociedades modernas e não haverá nada na sua análise, psicanalítica, psicológica, criminal e até mesmo muito pouco na análise sociológica (que me é mais próxima) que eu possa acrescentar, se tivermos em conta o fenómeno em si. 
No entanto, gostaria de alertar para que (em jeito de associação ou mesmo de correlação) certos momentos sócio-económicos como os tempos de crise que através de uma má gestão governativa e institucional dos mesmos, são capazes de desencadear socialmente uma profunda desregulação nas relações do individuo, neste caso, quem sabe uma desregulação no seio familiar, que propiciando um estado de desregramento nas sociedades, poderá originar aquilo que, já em 1897, levou Durkheim a apelidar de suicídio anómico.

Por outro lado (não estando obviamente a estabelecer uma relação de causalidade), o contínuo desinvestimento na Escola Pública (ou da destruição da mesma) tanto na sua estrutura educativa, no que diz respeito ao tratamento que tem sido feito aos seus professores sempre na incerteza do amanhã e na redução de psicólogos, como na sua estrutura logística, com cada vez menos funcionários para cada vez mais alunos, preenchendo cada vez mais, turmas maiores, está associada a um pior acompanhamento dos estudantes numa idade em que a socialização secundária é ainda terra movediça a assentar sob com as enormes inseguranças da adolescência. Ainda para além disso, chegando a casa encontram no seio familiar o cansaço paternal e maternal, sob a pressão contínua pela manutenção dos postos de trabalho na ameaça desemprego crescente. 

Parece-vos que exagero com esta relação? Não me parece. Numa sociedade em que a consciência colectiva, como nos diria Durkheim, está constantemente ameaçada e são estimulados os instintos egoístas pela quebra da solidariedade social, cada uma e toda a acção humana está estritamente ligada e é reflexo da "sanidade de todo o organismo". Hoje em dia, e temo que progressivamente piorando, o organismo sofre em silêncio até que certas partes suas (por mais pequenas e isoladas que sejam) decidem matar-se. 

Deixo em nota final um vídeo promovido pela APAVem parceria com a Disney Channel contra o bullying intitulado "Quebra o teu silêncio":


1 comentário:

Anónimo disse...

O que leva um indivíduo a ter coragem para atentar contra a sua própria vida é sempre um mistério que fica encerrado com a sua morte. Aquilo que o move a tomar essa decisão é uma resposta que só se encontra dentro da sua própria cabeça. Podemos suspeitar, supor e projectar razões, mas não nos é possível alcançar a verdade absoluta. Este talvez seja um post que o "maldito" Dr Vítor Pimenta, na sua posse privilegiada de experiências em instituições psiquiátricas, esteja mais apto a comentar.

Há no entanto duas variáveis fundamentais. A intrínseca à pessoa - o seu equilíbrio interno, a sua capacidade de resistência, adaptação, e reacção a focos de stress do meio... E a extrínseca- que diz respeito aos agentes stressantes que o meio externo exerce sobre essa pessoa. Neste caso concreto, o bullying comporta-se apenas como um de muitos possíveis agentes stressantes do meio externo, porventura o principal responsável pelo colapso, mas certamente não o único.

Cabe às organizações e às sociedades saber identificar as situações de risco, ou seja, os indivíduos potencialmente vulneráveis e os meios que potenciam os riscos, procurando actuar nas duas variáveis em cooperação e encaminhando para os especialistas.

Atenciosamente anónimo das 15:01