sexta-feira, 16 de maio de 2014

A ilusão da mudança

Nas próximas europeias, votar PS, PSD e CDS é votar essencialmente na mesma coisa, no mesmo projecto disforme de Europa, muito afastado dos princípios que fundaram a União. É votar no caminho de um federalismo forçado, que só não tem tentado desfazer as identidades nacionais, a soberania dos povos, como tem acicatado o mais ignóbil e assustador do nacionalismo. Como diz Pacheco Pereira, esta é "uma Europa que se deixou esvaziar do seu melhor". Pior, sob o uso de uma política externa desastrosa e das orientações económicas da Alemanha, tem alimentado a maior vaga de eurocepticismo que me lembro de assistir, dentro e fora do espaço europeu. Eu próprio vejo-me mais um eurocéptico desta Europa decidida nas cúpulas, que humilha os parlamentos e governos nacionais e despreza a opinião dos seus cidadãos na construção da União (lembrai a aversão da Comissão Europeia aos diversos referendos ao Tratado de Lisboa). Os próprios partidos políticos do arco do poder, retiram os olhos do cidadão das decisões que tomam à sua revelia. Estão-se a marimbar para o que os portugueses possam pensar da Europa. Nem querem que se discuta. Fazem antes das "europeias", mais uma ronda na dança das cadeiras, na pole-position nos lugares que já ocupam e só se revezam aqui e ali. Os partidos do governo a ensaiar o melhor resultado possível, sabendo que as perde. E os "socialistas" a tentar segurar a figura insossa do seu secretário-geral. Está o país, como diz Clara Ferreira Alves, entregue a "apparatchiks encarregues de ganhar eleições". Vide só a matilha do reumático que o PS põe na lista. Senadores, que de outro modo já fartaram o calo das nádegas em São Bento e vão reclamar o prémio de lealdade e "sova no lombo" assentando arraiais em Bruxelas. Vide a lista desta nova AD, que não se coibiu de afastar um dos eurodeputados mais trabalhadores, como Diogo Feio, certamente não tão bonito como aquele par de jarros na fronte: o nasal Rangel dos 101 Dálmatas e o carinha de don juan do Nuno Melo e o seu discurso Moët & Chandon com que brindou ao "fim do programa do ajustamento". Os portugueses que bebam champomix.

3 comentários:

Anónimo disse...

Texto muito certeiro do Sr. Vítor Pimenta. Só acrescentaria que votar em quem quer que seja será essencialmente a mesma coisa. Os eurodeputados portugueses estão para a europa como os membros do nosso governo estão para a troika, o mesmo que uma conversa de surdos/mudos.

atenciosamente anónimo das 15:01h

Anónimo disse...

Ora nem mais, votar, seja em quem for, só resulta em mais uns cobresitos para os partidos. E eles que se lixem pois a nós já nos lixaram quanto baste.

Anónimo disse...

monarquia já.