domingo, 20 de agosto de 2006

Paredes molhadas e Gigantes da Chuva

O festival seria um bocadinho melhor se não tivesse de contar a roupa seca. A garganta é que não se calou nos concertos que assisti. Era uma orgia de braços e pernas descontrolados ao ritmo de golpes de guitarra e bateria, pelo contorcionismo dessas personagens em êxtase e quase no limiar da inatingibilidade. Um deles foi Morrissey, ali tão perto e tão distante. E tão altivo a dar a esmola da sua presença a umas centenas de adictos e a uns milhares de admiradores, a lançar a camisa impregnada de perfume a 7 punhados de leões, sobrou-me um pedaço da manga, e que feliz me deixou aquela magna míngua.... Prolongou-se o atordoamento e a bebedeira da música e dos seus rodopios e jogos de mão, de poses de sevilhana e do serpentear da cauda do microfone. Diferente pelo menos… Um privilégio para mim.


Nos outros dias foi a chuva e os bocanhos, aquelas pausas entre os aguaceiros, as novidades e as novas vagas até que tudo culminou num último dia, em que os velhos deuses se tornaram sopro de juventude, de novidade, de uma loucura que julgava exclusivo de carnes frescas. Mas não, fiquei antes embevecido de uma tontura louca, da insanidade de um inconformismo com os ditos da madureza, admirado comigo, como tantas vezes posso ser apático e imóvel, como muitas vezes o somos, nós, príncipes da geração perra, à espera que alguém se lance ao futuro por nós. Os The Cramps mostraram-me o contrário. E Bauhaus arrepiaram-me como me fizeram estender os braços aos céus e à chuva. De Paredes de Coura saí molhado e satisfeito, mas sobretudo engrandecido...
[Fotos "roubadas" no blog da Antena3]

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