sábado, 28 de outubro de 2006

Chá de Ortigas

O Arcebispo de Braga, e o verdadeiro Senhor de Mordor... perdão... da Igreja em Portugal, lá exerceu há dias o seu poder de veto (em metáfora corrija-se) e abafou o pio ao Cardeal Patriarca, na grandeza do Órgão máximo da cúria nacional, a Conferência Episcopal Portuguesa, essa reminiscência da Santa Inquisição que mantém alguns traços daquela austera cegueira punitiva, esse circo de humilhação e desprezo da dignidade. Mas isso são contas de um rosário velho, que já lá vai. Perdoe-lhes quem assim o entender.
Em Lisboa, quase que imperou o bom senso de alhear o púlpito e o sermão de Domingo da escandaleira do comício político-religioso em alturas de referendo. E no que toca não ao aborto em si, mas sim, à liberalização da prática (até às 10 semanas) - e sobretudo ao acesso de mulheres confusas e outras mais ou menos decididas a uma assistência médica legal e sobretudo conselheira, a uma opinião não interesseira; a Igreja teima em não usar de um bom senso e de um sentido de realidade que lhe parece longe de atingir para além da esmola.
No entanto Policarpo cedeu à autoridade de Ortiga, no alto da influência e da virilidade pujante do Arciprestado Bracarense, esse outro (e mais um) bastião do conservadorismo desconexo, e perdoem-me a infâmia, hipócrita. Sim, porque na mente, ou melhor, na boca destes senhores, a sexualidade é o monocarril para o Inferno e dignidade têm os mecenas para obras da ostentação.
Sim (e ironizo), a sexualidade é o último recurso nas relações humanas, e completamente controlável na sua pecaminosidade, reservado para o reproduturismo militante ao qual muitos destes pastores tão bem sabem renunciar no encapotamento daquele anexo diabólico de látex com o qual se expia a possibilidade de contaminar o rebanho com alguma da sua prole. Antes obrigar os fiéis à santa missão de expandir a humanidade com famintos e adictos da caridade, neste mundo difícil e perigoso em que muito custa dar-à-luz; este pequeno grande Inferno redondo e pintado de um azul e verde rarefeitos que a nomenclatura da Santa Sé insiste em piorar com as suas teimas.

1 comentário:

Francisco Rodrigues disse...

Pelo que tenho visto, este Arcebispo de Braga não me parece que seja muito conservador. Comparado com os anteriores é mais modernista e actual. Mas a igreja e os padres são o que são e com este Papa temas como a Sida e os preservativos nem se discutem.