sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Bowling for Arco de Baúlhe ou a Malha aos exemplos de gestão perniciosa das escolas

De Cabeceiras de Basto: 1143(Vila) e 1252 (Arco de Baúlhe). Estes são os lugares no ranking das Escolas EB2,3 que calharam às duas do Concelho no ano lectivo passado. Nada que nos orgulhe portanto, bem atrás de concelhos como Vieira do Minho, Terras de Bouro e Amares, lugares acima logicamente.


Não seria esta altura, de Natal, para
apontar dedos e até se podia justificar com os habituais condicionantes culturais e económicos de muitas famílias do concelho, mais parideiras e mais limitadas à lavoura, ao coçar-da-túbera e ao mata-bicho... Diriam outros, porque: sem desculpas! - digo eu. Ainda por cima quando são mais que sabidas as excelentes condições físicas que são oferecidas aos professores e alunos em ambas as escolas. Sem par na região em redor, admita-se! E o mais interessante é que as infraestruturas até são melhores em Arco de Baúlhe do que em Refojos, para lá de quaisquer bairrismos parolos.

No entanto, de alguma maneira, as exigências maiores advindas (com piscina, pavilhão gimnodesportivo, transporte escolar, biblioteca municipal e afins...) parecem negligênciadas por um suceder de gestões pouco ambiciosas a que não escapam as mais recentes, eleitas e reeleitas. Falhas que não podem ser descaradamente apontados às autarquias, porque estas têm cumprido a sua função, ao contrário do órgão executivo da EB2,3 de Arco de Baúlhe e agrupamento de escolas associado.

O problema de base é que o actual sistema de eleição da direcção de agrupamento é tudo menos aberto e ponderado. É frágil às perversidades e à diabolização das pessoas, como que mandadas desde o inferno cor-de-rosa para amedrontar o paraíso independente de tanta laranja pendurada em salgueiro sobre lago de patos. Há todo um processo de intriga e jogo político, arremesso e batalhas em surdina, troca de favores e influências, caudal de vénias. E é isso que conta na eleição. Uma incomportável vergonha, porque a exigência de mais e melhor educação fica deitada para segundo plano e com isso as reais obrigações de uma liderança que se quer competente e abertamente escrutinada em prol dos mais interessados: os alunos. Estes, ainda longe da regateirice a que se submetem os pais e, pelos vistos, sem grandes exemplos de cidadania para o futuro.

Face a esta problemática, tão familiar em Cabeceiras de Basto, e em Arco de Baúlhe particularmente porque está para lá virada a reflexão, vejo com bons olhos o que o Primeiro-Ministro quer fazer dos conselhos directivos. Aliás, em muito boa hora, mesmo que tardia, por força da equipa do Ministério da Educação - perdoem-me os talibãs anti-Maria de Lurdes Rodrigues - a melhor de que há memória em tempos de legislatura democrática. E tudo porque quer realmente reformar o Sistema Educativo do País que, tido por todos como uma verdadeira bosta, tão pouco se dignam estes em querer desemerdá-lo.

Segundo a proposta, e lida na generalidade, os conselhos executivos tornam-se acessíveis por concurso a gente qualificada, com um projecto educativo (que se quer ambicioso), gozando de autonomia administrativa e financeira, com maiores responsabilidades na própria dinâmica do contexto comunitário e nos resultados escolares. E isto com um Conselho Colegial que, integrando os pais, professores, autarquias e colectividades locais, tem a obrigação de escrutinar e escolher a melhor proposta. No óbvio do seu papel transparente e inerente de querer o melhor para os seus filhos e para a sua comunidade.

Acaba-se assim com estas gestões de prejuízo, na fisiologia de base e completamente desligada do meio socioeconómico e cultural, a servir, e mal, interesses partidários por debaixo. Porque a responsabilidade das coisas funcionarem mal também será do conselho que a escrutina. E portanto, também este apontado quando for preciso na auditoria do dia-a-dia: na blogosfera por exemplo.

As comunidades devem escolher o melhor gestor da educação dos seus filhos a bem deste país e neste mundo extremamente competitivo, aliando todas as forças vivas locais na eleição e no julgamento da acção educativa. E com responsabilização. É uma questão de exigir resultados a quem os deve apresentar e de uma maneira transparente. De termos também uma educação de qualidade que forme cidadãos de valor acrescentado, com sentido crítico, empreendedores e argamassa de uma democracia madura e sustentável.

10 comentários:

Marco Gomes disse...

Tens razão é preciso mudar. O Ensino como está (local e nacional) tem muito que evoluir.

Anónimo disse...

Não podia estar em mais desacordo contigo! O problema do ensino (local e nacional) não pode ser imputado, apenas, aos conselhos executivos ou a órgãos de gestão das escolas, porque isso é extremamente redutor. Esses são reféns das indicações das direcções regiões e do ministério de educação.

A realidade de Cabeceiras, é semelhante a tantas outras, por este país fora.
Encontramos alunos sem qualquer interesse por este modelo de Escola, conteúdos programáticos extensos, e quando leccionados a turmas com alunos com mais dificuldades, nem por sombras são cumpridos. Turmas com alunos excessivos (28 alunos por turma) é impraticável.
Professores desmotivados, e muitas vezes sem materiai didáticos para trabalhar. Indisciplina nas escolas. Por exemplo, na escola onde estou, a polícia é obrigada a intervir quase todos os dias.
Em relação aos projectos educativos que referes, eles são implementados todos os anos nas escolas, pelos professores e alunos com colaboração de toda a comunidade escolar e participação de entidades locais.

Vítor Pimenta disse...

Hugo.
O Artigo fala da gestão local das escolas.
Obviamente a responsabilidade pela ineficiência do ensino em Portugal não é dos órgãos executivos das escolas. Eu só contesto o que se podia fazer melhor em estabelecimentos com condições acima da média e onde se negligencia o serviço em prol da manutenção da permanente birra política. Faço a avaliação por aquilo que eu tenho de recordação de lá, do que eu vejo agora e das frases tristes de algumas pessoas ligada à gestão do agrupamento. E meu caro. Eu defendo uma gestão local autónoma e responsabilizada. À Americana, se quiseres. E até te confesso que mais radical. Porque é que uma pessoa, não professor, até um simples cidadão como eu, não se pode candidatar ao órgão executivo de uma escola, desde que bem formado e com um projecto sólido e claro devidamente escrutinado pelas entidades, professores e pais?

Anónimo disse...

Caro Vitor

Em relação às birras políticas que mencionas, não poderia estar mais de acordo contigo!
As escolas não podem ser usadas como meios de extensão dos poderes autarquicos de cada concelho!

Gestores nos orgãos executivos das escolas?!

A gestão pedagógica, através de projectos educativos deveriam ser apenas elaborados por professores, principalmente por professores com conhecimento do meio envolvente, de forma a encorajar a participação de toda a comunidade local e entidades importantes do meio circundante.
Gestores não professores poderiam ser extremamente benéficos na optimização dos recursos escolares, bem como, na eliminação de tudo o que seja supérfluo.

Não podemos dissociar a gestão das escolas do paradigma Sucesso/insucesso escolar dos alunos.
E esse paradigma é regido por diferentes variáveis, onde a gestão das escolas é uma infíma parte da solução.
Medidas avulso é como tapar o sol com uma peneira, não têm efeito prático. A educação precisa de uma reforma estrutural profunda, de forma a se adaptar às actuais exigências do mundo global.

Vítor Pimenta disse...

Sim. A reforma quer-se profunda mas de nada serve se se continuar a ter estes estabelecimentos como feudos pessoais e completamente indolentes.

Acho que há todo um horizonte disponível, mesmo no contexto actual, de marcar a gestão de uma escola pela diferença. E não vejo esse esforço e que seria benéfico para a comunidade no futuro:

Onde estão os embriões grupos de teatro, musicais, culturais e folclore? Onde está a discussão e a semente do sentido crítico? Onde estão as sementes da cidadania? Onde está a educação sexual e para a saúde e que muito podia ser feito em conjunto com os centros de saúde locais? Onde é que está a comunidade nas suas associações e gente formada, intelectuais amadores e figuras locais no turbilhão da formação dos alunos em projectos extra curriculares?

Tudo tem a ver com o conceito de escola. Eu gosto de vê-la como uma placa giratória da cultura e conhecimento e centro dos esforços de uma comunidade no seu futuro e na sua identidade.

Não digo que precisem de ser professores para o fazerem melhor. Tem de ter noção das coisas. Se não teríamos a versão EB do gestor do Hospital que não percebia do quanto NaCl que se gastava. (soro para os mais distraídos)

Um Exemplo: Michael Moore, o realizador do Farenheit 9/11 e Bowling for Columbine foi director da sua própria escola com 18 anos. E porque não, se mostrar que o pode?

josé manuel faria disse...

Um cidadão bem formado com 18 anos poderia candidatar-se a gestor de um hospital para bem dos doentes em Portugal.

Anónimo disse...

A realidade dos EUA é um bocado diferente da nossa. Existe uma política comum de self-made-man, que por cá ainda está longe de se atingir.

Essas actividades extra-curriculares,que referiste,seriam muito benéficas, dotaria a comunidade escolar de instrumentos culturais, sociais, desportivos, artísticos... muito uteis.

Mas para isso é preciso dois recursos essenciais. Os humanos e as infras-estruturas. As últimas podiam resultar de um inter-câmbio com as autarquias. Enquanto que as humanas, (professores e não professores com aptidões em diferentes áreas [cinema, teatro, música...]) teriam de ser articuladas com outras instituições do meio.
Mas de onde viria o dinheiro? Com o actual horário laboral é impossivel aos professores colocados em cada escola realizarem esse tipo de actividades! Estaria o estado disponível para "patrocinar" tais iniciativas?! Sinceramente acho que não! Os alunos estariam, extremamente receptivos, e os pais também, disso não tenho dúvidas. Mas para essa realidade ser implementada com sucesso ( e com continuidade), precisavamos politicas que apostassem claramente na educação e não politicas que estrangulam as escolas com burocracias.

Vítor Pimenta disse...

Ó JMF, um hospital tem outros orçamentos e o caso do michael moore é uma excepção. Mas num país de liberdade, toda a candidatura é válida mas também há a responsabilidade de quem os elege.

Hugo, quanto à tua abordagem concordo. Há a necessidade de maior articulação e financiamento por parte das autarquias. Creio que não é o caso por cá, por muito que pintem o contrário. Mas as escolas também tem de saber buscar mais dinheiro com as suas actividades e ao mesmo tempo incentivar o mecenato local, p.e..

Quanto ao tempo dos professores. É uma questão de dedicação à causa. Fossem muitos médicos dedicados e os centros de saúde funcinavam com outra eficácia...

Anónimo disse...

Vitor

Será que não há "politiquice" na escolas do concelho?!

Então porque é que no Arco o Sr. Presidente fez tanta questão em que o Prof. Augusto se candidata-se?!
E não sérá por acaso que a nossa Deputada, foi presidente do Conselho Executivo da EB de Cabeceiras de Basto.

Coincidências?! Não acredito

Vítor Pimenta disse...

Eu critico a politiquice no artigo.

Agora não vejo como se pode apontar uns e não apontar os outros. As guerras políticas trazem prejuízos enormes para os alunos porque simplesmente as escolas ficam condicionadas a picardias entre "adultos e formados". E não vejo porque uma deputada não se possa candidatar a um cargo. Eu estranho é apenas a irresponsabilidade ou a falta de interesse das diversas partes (pais, professores e autarcas) em afastar este tipo de clima da gestão escolar.

Porque os resultados estão à vista no que diz respeito às EB's. Mas se calhar eu estou a ser demasiado burguês nas exigências.