Quem conhecer a realidade dos camionistas como eu (o meu pai faz parte da classe), sabe que os números actuais (cerca de 90 mil) foram suportados pelos altos rendimentos conseguidos quando os preços do gasóleo eram iguais ao da chuva e compensavam na concorrência. Nisto seguraram-se milhares de camionistas distribuídos por quase tantas empresas quanto eles. Muitas delas, portanto, a título quase individual e as outras, pequenas e médias, a funcionar como meros torniquetes de pedidos de transporte e de negociação do leasing para renovação da frota.
A relação entre empregado e empregador é aliás, quase de camaradagem e daqui nunca resultou uma tradição sindical organizada neste sector. Não admira então que o protesto (lock out) que se iniciou por uma reivindicação do patronato se tenha alastrado aos trabalhadores, de uma forma quase solidária, e com a fornalha da ameaça do desemprego a alimentar-se de dia para dia.
Tornou-se evidente que estão em número demasiado para um mercado mais agressivo e onde há uma gritante incapacidade de negociação na indexação do aumento do preço do combustível ao preço do frete. Muito à semelhança dos pescadores, que sem grandes empresas com capacidade negocial em Portugal (a ANTRAM representa uma pequena finidade de empresas grandes, mas que não são grande coisa) , não conseguem ajustes nas tabela como não conseguem organizar-se para amainar os excessos do protesto e a irresponsabilidade nas reivindicações - basta ver os representantes sem saber o que estão de pedir e a quebrar quaisquer regras morais na negociação com o Governo e na liberdade das outras pessoas.
Na verdade, o mercado vai lançar muitos deles no desemprego ou para outras alternativas, e com eles umas tantas empresas, mas só se afinca a qualidade do serviço e a sustentabilidade económica de quem sobreviver no sector.
Nisto, o Governo português como os outros, não devem ceder a bem de não se tornar a economia ainda mais subsidiodependente e inadaptada às exigências dos mercados mundiais. Quem sabe quem seriam os próximos a exigir a benesse nesta espiral. E mais: aligeirar o fardo financeiro no consumo de combustíveis à custa da diminuição dos ISP - para além de altamente penoso para o Orçamento do país - é criar um obstáculo à eficiência conseguida pela utilização racional do transporte individual, pelo uso do transporte público e e os avanços tecnológicos na industria automóvel que muitos benefícios trará no futuro ao Ambiente e à própria economia mundial. É andar para trás. E um ambientalista que se preze não pode tolerar a rebaratização do combustível.
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