Vai aqui o comentário, arrancado a expensas do sr. Ernesto, que não fez por menos em vincar a sua desilusão por me manter calado face a 120 000 pessoas e professores, ou professores e pessoas, na rua a contestar a ministra. Antes de mais, calei-me porque já disse baboseira que chegue nos últimos meses. Nessa altura não fiz mais que juntar-me às baboseiras de tantos outros paladinos dos prós e dos contras, a dissertar sobre coisas que nem sabem se percebem ou se têm alguma opinião formada. De resto, apetece-me não querer saber. Li uma vez num livro (que me perdoem por não me lembrar em qual) que o sistema educativo deve ser o que mais modelos testa e onde todos parecem errados. Uma coisa é certa: o velho modelo está mal porque os índices não estão aí para enganar - mesmo que de valor muito relativo. Agora se a reforma de Maria de Lurdes Rodrigues mexe na carteira e no tempo-livre dos professores, é assunto sindical inerente a essa classe profissional - não meu, pois a docência não está nas minhas perspectivas profissionais futuras. Apenas compreendo e percebo que se proteste a burocratização do ensino, com auto, hetero e homo-avaliação - sei lá. Solidariedade por aí, pois também os médicos, de família e doutras especialidades, se tornaram agentes de burocracia do Estado e se aborrecem com isso - é um valente desperdício de energias, na realidade. Depois não admira- como dizem os Manueis e os Etecéteras - que se entreguem de corpo e alma ao mercantilismo para pagar a casa, o carro, a mota, as viagens - tudo que os livre do pantanal das chatices entre colegas de trabalho, as intrigas e os golpes palacianos. De verdade,garanto que, mesmo isso, não lhes dá a felicidade que procuram.
Desculpem o azedume, mas o problema de base é termos uma sociedade com cada vez menos paciência para se aturar a si mesma. Anda tudo com este síndrome de fuga, a querer fugir do local de trabalho, abominar quem lhes chateie, a odiar papelada e carimbos, os bancos, as contas por pagar, na febre do peeling e da magreza.
Esta sociedade é feita de gente tão egoísta-mental, tão embriagadamente insatisfeita com o que tem e o que nem precisa, que a bondade, o bom senso e o altruísmo têm de ser forçados em decreto-lei. Com isto, lamento que a unidade dos docentes só se note em tempos de guerra com os ministros e que depressa se amainem os ânimos e dispersem com as habituais contrapartidas: carreiras automáticas e dinheiro para passear decência. Tenho pena, na questão do ensino, que não sejam os professores a fazer pelo seu nicho, pela sua casa e mudá-la para melhor - nesse sentido de missão que dava carisma a algumas profissões, e que há muito que foi lançado às urtigas.
Com tantos youtubes e magalhães, tanta informação na disposição de um clique, não tivesse eu de dispender grande parte da vida a dedicar-me ao expediente de papelada, formalidades e pernas-por-fora para manter o fluxo comida e bugigangas, dava eu a educação aos meus. Aliás, dávamos todos.
Desculpem o azedume, mas o problema de base é termos uma sociedade com cada vez menos paciência para se aturar a si mesma. Anda tudo com este síndrome de fuga, a querer fugir do local de trabalho, abominar quem lhes chateie, a odiar papelada e carimbos, os bancos, as contas por pagar, na febre do peeling e da magreza.
Esta sociedade é feita de gente tão egoísta-mental, tão embriagadamente insatisfeita com o que tem e o que nem precisa, que a bondade, o bom senso e o altruísmo têm de ser forçados em decreto-lei. Com isto, lamento que a unidade dos docentes só se note em tempos de guerra com os ministros e que depressa se amainem os ânimos e dispersem com as habituais contrapartidas: carreiras automáticas e dinheiro para passear decência. Tenho pena, na questão do ensino, que não sejam os professores a fazer pelo seu nicho, pela sua casa e mudá-la para melhor - nesse sentido de missão que dava carisma a algumas profissões, e que há muito que foi lançado às urtigas.
Com tantos youtubes e magalhães, tanta informação na disposição de um clique, não tivesse eu de dispender grande parte da vida a dedicar-me ao expediente de papelada, formalidades e pernas-por-fora para manter o fluxo comida e bugigangas, dava eu a educação aos meus. Aliás, dávamos todos.
5 comentários:
Caro Vítor, essa cena do altruísmo vai explicá-la a milhares de professores que na sequência desta bela reforma e para fazer portfólios, desenvolver os projectos curriculares de turma, efectuar reuniões quase diariamente às 18.30 horas que só acabam lá para as 22 horas em muitas situações; explica a esta gente que são Directores de Turma e que trabalham no computador muitas vezes até às 3 da manhã e que no dia seguinte têm que se levantar às 7 da manhã para estarem na escola às 8.30 (todos rotos é o que é e cansados - Que linda motivação pra ensinar) explica a essa gente a tua teoria do altruísmo. E ouve atentamente Manuel Alegre e passo a citar: "Não é com burocracia e facilitismo ( novas oportunidades cursos de formação profissional onde se gastam milhares aos cofres nacionais para sustentar politicamente alguns caciques locais e de operacionalidade e qualidade duvidosas) que se promove uma verdadeira política de Educação em Portugal. O Manuel Alegre lá saberá do que se está a falar. Não achas? A Ministra que pegue na reforma que inventou, que entupiu a escola de papéis e transformou os professores em autênticos funcionários administrativos, que pegue nessa reforma e a meta num sítio que eu n digo que é muito feio. Ela que venha para as escolas e que veja o colapso em que as transformou. Deixemo-nos de brincar com a dignidade profissional dos professores. Também têm família em casa e são seres humanos. Ou será que não? Agora quanto à avaliação estamos de acordo, pois ela é necessária. Agora dialoguem e arranjem um novo modelo mais humano e menos burocrático.
Caro Sousa Pereira, completamente de acordo consigo e com o Manuel Alegre. Provavelmente o exercício de escrita fez imperceptível a mensagem. Agora que leio, talvez seja essa a falha.
Na essência, entendo qualquer profissão (não ocupação) deve ser tida como uma missão e um acto de responsabilidade para com a comunidade - é com os professores como é com os médicos. Acho que ambos devem estar disponíveis todos os dias para a comunidade - é o seu dever natural - como era com o ser humano educador e cuidador. O problema é que estamos irremediavelmente presos aos paradigmas económicos e essas coisas da competitividade e produtividade - no fundo conceitos dúbios.
Limita-se a progressão na carreira e inventa-se avaliações em prol da competitividade que depois só leva apenas ao individualismo e ao maltrapilhismo, à ganância, nada benéficos para a humanidade: é o paradoxo do Darwinismo sociológico. Teoria que nem Darwin aceitaria.
Só acrescento uma coisa, para que saiba: não entendo necessária a avaliação - em caso nenhum - E porque? Se todos os docentes quiserem o melhor para a sua escola/comunidade, por aí farão por se melhorarem uns aos outros.
E aí para quê avaliar se não para estruturar uma classe numa hierarquia de ordenados? Está a ver onde quero chegar?
A sociedade que temos infelizmente deturpou o valor do trabalho, tornando-o o mal necessário para se ganhar o dinheiro e o tempo (tempo é dinheiro e vice-versa)que alimente o nosso estilo de vida - que não é necessariamente qualidade de vida.
No meu desvario faço a lamentação acerca da mercantilização das actividades humanas essenciais. Veja lá que andamos todos pegados, sempre invejosos - como espécie estamos condenados ao fracasso.
abraço
Caro Vítor
Não percebi porque razão demonstrou tanta AZIA no seu texto. Não me diga que você é discípulo da Sinistra da Educação?!?!?
Já agora viu o que se passou hoje em Fafe??? Ou também vai ignorar e não fazer nenhum dos seus belos post's?
Só mais uma coisa, sabia que manifestação maior do que a de sábado, só a 13 de Maio em Fátima?
Ernesto
Caro Ernesto, suponho que docente, certo?
Não sei se leu a resposta ao comentário de Sousa Pereira, mas a minha opinião acerca do trabalho - da docência e da médica, como de outras artes humanas - é demasiado complexa. E desde já acho que faz mal em comparar a manifestação dos professores com manifestações religiosas. Só pela irracionalidade, está tudo dito.
Não sou defensor da sra. ministra como ministra. Talvez como pessoa. A mulher terá boas intenções, apesar de talvez errar, e acho de uma rudeza e de inumanidade fazer aquelas coisas com ovos e insultos. Faz lembrar as saídas à porta do tribunal, com aquele coro de gentinha cheia de virtude a chamar" filho da puta e assassino" a um desgraçado.
Já disse que sou contra a burocratização e às obrigações profissionais em protocolo e ditado por lei. Acho que um professor o deve ser naturalmente e é desde a classe que devem partir as reformas do sistema educativo. O problema é o comodismo que é uma forma chique de preguiça.
Destas palavras do comentário de Sousa Pereira, subscrevo-as na totalidade, como professor que estou no activo.
"...desenvolver os projectos curriculares de turma, efectuar reuniões quase diariamente às 18.30 horas que só acabam lá para as 22 horas em muitas situações; explica a esta gente que são Directores de Turma e que trabalham no computador muitas vezes até às 3 da manhã e que no dia seguinte têm que se levantar às 7 da manhã para estarem na escola às 8.30 (todos rotos é o que é e cansados - Que linda motivação pra ensinar) explica a essa gente a tua teoria do altruísmo."
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