Devo ser dos raros que gostam do barulho do motor das sulfatadeiras, assim ao de leve, a bailar com o vento sobrepondo-se em alternância ao tilintar das folhas. É o som de fundo que a mim melhor embala as tardes de tineira, em que o sol se faz mergulhar a pique e sem perdão, e eu durmo sestas como um abade castelhano. O meu quarto dá para a sombra, e por detrás, essa música mecânica, combustível, é agora tomada por outra, um vaivém em decibéis de motor grosso, brotadeiro, bruto, a arrastar toneladas de terra em camadas, umas por cima das outras, base em massa folhada de um jesuíta de asfalto, que é como quem diz, essa estrada que vai abrir perpendicular e paralela ao núcleo urbano. Morrem com o progresso os campos ladeados de videiras, de onde à minha cama chegavam os aromas crivados da natureza, seus ruídos e melodias. Já conto os dias até ao dia em que o descampado lhe dará lugar, e vou ter carros para contar em vez de gatos, pássaros e cães e urros estranhos a meio da noite como de noitibós e daquela coruja ou moitcho que uma vez me poisou na varanda. Também me espera, assim que a crise dê lugar à mania, ver crescer prédios em vez das árvores e esteios, defronte para a intimidade do meu, quando terei de puxar a cortina abaixo para expor o torso à brisa sem pudor. No novo século, quase os dedos de duas mãos em anos metidos nele, a selva de cimento ainda é aqui daninha e rainha. E a não ser que as suas vigas segurem vides que espalhem parra e uva entre apartamentos, quais arcos de romaria, não devo dormir mais sob o som do sulfato.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
É só um bocadinho, é só um bocadinho...tem de ser!!!
É só um lamentozinho, pq eu queria um parquezinho naquela zona, se puder ser com árvores graúdas :)
lamentozinho bem feito
o arco esta a ficar cada vez menos importante para o concelho de cabeceiras de basto..concelho esse com o qual sempre soube competir (a nível económico)!!
antes vivia-se "conectado"com atei,cerva,mondim, celorico e amarante - com o comboio a facilitar a ida e, sobretudo, a vinda desses 3 últimos lugares - e agora vive-se "conectado" com o betão,desorganização e incapacidade dos "nossos" arquitectos.
o arco e as suas gentes, apelidadas de bairristas, estão a ver destruído, a cada dia, a hipótese de ter "naquele" lugar da vila, um lugar para se visitar, desfrutar e viver!!!
ora "vejamos"..num sabado ou domingo á tarde em s.nicolau, na zona da praia fluvial ou em vila nune, no polidesportivo, encontrarao - não se espantem - uns jovens (do arco) a jogar voleibol/ténis/futebol com a possibilidade de, no caso de d s.nicolau, poder tomar banho numa agradável praia fluvial!!!
porque não o fazem no arco!!!!!?
Os teus anseios encontrarão resposta nas águas tranquilas de uma barragem à cota 500.
Enviar um comentário