estado de graça

os dias que correm não me dão aso a considerações aprofundadas. o governo dorme descansado, nem me ouve sequer. fico-me pelo desvio ao sul por évora e sintra, se deus quiser. lisboa cheira mal e é sempre a mesma porcalhona pendurada, onde só se salva meia dúzia de coisas que se levam à boca. um gelado no santini, a ginginha no rossio, uma bica e um pastel de belém, uma imperial no adamastor, um hamburger no 'great american disaster'. já a capital alentejana merece bem o título de património mundial. ainda que pequena tem um imenso centro histórico exemplarmente conservado. está tomada pelos pássaros. as andorinhas reclamam o céu por cima de nós. os corvos enxutam os forasteiros perseguindo-nos de beiral em beiral, grasnando como quem nos cospe nas costas. tudo o resto se recomenda para a pacificação do espírito. desde a brancura das casas com quintais escondidos, à capela dos ossos, o colosso de pedra da sé, os pilares romanos do templo de diana, o vagar alentejano que tanto calor obriga, a moleza pregada pelas migas regadas de tinto asperoso. no ócio que se dá aos tostões, o país primeiro.