quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Quão longínqua a Humanidade?

Norilsk, na Sibéria (Rússia), pela fotografa Elena Chernyshova


Todos os dias somos surpreendidos com a capacidade de sobrevivência de homens e mulheres em diferentes partes do mundo, de onde nos chegam relatos pelos canais mediáticos de todo o tipo. Alguém viveu duas década num túnel de esgoto de uma cidade para poupar dinheiro, ou um bebé que tendo sido encontrado num cano de esgoto, foi retirado e sobreviveu. Os inúmero relatos de violência extrema nas centenas de guerras e guerrilhas em todo o mundo, ou como comummente conhecido, no submundo, onde convenientemente multinacionais se encontram sugando recursos, patrocinando e perpetuando conflitos internos para permanecerem como arautos da democratização capitalizada no mercado livre (veja-se onde começou e onde pára a Primavera Árabe), veja-se o caso do Líbano nos seus inúmeros conflitos, veja-se ainda o caso de gritante atropelo à Humanidade, da Faixa de Gaza. Por outro lado, temos a emigração de guerra ou a do desespero, temos os refugiados, aos milhares tentado uma porta para a Europa, naufragando na costa ou retidos na ilha italiana de Lampedusa. A tudo isto e a tanta outra coisa a comunidade internacional, na alta moralidade dos seus líderes critica veemente, mas assobiando para o lado, não se unindo naquela que seria a verdadeira discussão do problema na vontade de o resolver - atacá-lo na raiz.
Há, assim sendo, uns que lutam por sobreviver pelas condições socioeconómicas, culturais, por factores externos que os impelem à sobrevivência. Enquanto outros, como os habitantes de Norilsk na Rússia, escolhem (livremente) viver, dia após dia, numa convicta afronta aos limites da sobrevivência, respondendo que a Humanidade é tão longínqua quão longínqua for a vontade. 
A fotografa Elena Chernyshova esteve na cidade de Norislk, para o projecto "Days of Night, Night of Days", sobre cidades com características únicas e especiais. Em Norislk as temperaturas variam entre os -10 e os -55 graus Celsius durante todo o ano, durante dois meses experimentam a noite polar, isto é a cidade não vê a luz do sol. É a sexta cidade mais poluída do mundo, de onde resulta que a esperança média de vida seja dez anos mais baixa do que no resto do território russo. Ali vivem perto de 175 mil pessoas. 

Hoje, a gentes de Norilsk fizeram-me rever a pergunta que dá título à publicação. Na sua longínqua vida parecem, por escolha própria, ter encontrado entre a força de viver e a condição humana o apego à terra, de forma tão genuína que quando saem desta inóspita cidade, a lembram com saudade. 

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1 comentário:

João Bravo disse...

Vivemos num tempo em que «valores maiores» se sobrepõem à Humanidade! O importante é proteger o poder, a influência o capitalismo selvagem... tudo o resto são apenas meios para - apenas uns - lá chegarem!
Apesar do actual paradigma ser triste e revoltante é humanamente fascinante perceber a força, a resistência e - principalmente - o amor com que tanta gente com tão poucas razões para continuar na luta pela sobrevivência, é fascinante - dizia eu - perceber como essa gente continua e nos dá verdadeiras lições de vida provando que, sem dúvida, tudo é tão relativo!