quarta-feira, 16 de abril de 2014

O capitalismo simplesmente não funciona: a desigualdade provocada pela concentração da riqueza ameaça destruir-nos

O trabalho de Thomas Piketty confirma certos pré-conceitos que tinha em relação ao capitalismo, a saber: trabalhando não se enriquece; o berço (o que herdamos) é o elemento determinante da nossa vida económica e social; a desigualdade na concentração de riqueza não é imutável nem um designo divino; promove o individualismo, em toda a sua dimensão diabólica. Permitida pela ideologia do "extremismo meritocrático", de natureza próxima de um darwinismo social, é esta a norma social actual.

Tudo isto pode ser explicado através de um episódio alegórico que não me canso de contar a quem me dê um par de ouvidos:
Era uma vez um João e um Mário. Ambos possuem idênticas condições físicas e mentais, partilhando o mesmo espaço físico. O João, é filho de um operário que tudo fez para lhe dar uma boa educação e o mínimo de condições de subsistência. Herdou do pai, apenas o que o pai lhe deu durante a vida: a educação e a força de viver. O Mário é filho de um latifundiário, que lhe deixou propriedades e um milhão de euros em títulos financeiros e em depósitos a prazo. O João farta-se de trabalhar, suando oito horas por dia, seis dias por semana, num sector que produz bens essenciais. O Mário vive dos rendimentos. Nunca trabalhou nem tem "pretensão" para tal, apenas investe e reinveste o que arrecada com o que herdou em títulos financeiros, sendo um reconhecido "jogador" da roleta da economia financeira. O João vive na base da pirâmide social e de lá não sai, mesmo na eventualidade de trabalhar mais um par de horas por dia. O Mário é por "mérito próprio" um ser socialmente apto que vive uns degraus acima do João na pirâmide social. O João chora todos dias. O Mário vive majestaticamente. Moral: o sistema protege e recompensa os "sortudos", condenando os "azarados". Conclui-se, assim, que tudo se decide no berço, uma consequência por estarmos socialmente estacionados na idade das trevas. Não evoluímos muito, pois não?

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