domingo, 29 de julho de 2007

Cabeceiras: Encanto Desnaturado

Num destes dias conversava animado, com alguma inconformação pelo meio, com um amigo e entretanto vários sobre o que se tem feito do meu concelho. Vai-se gabando a beleza natural e hospitaleira. Dos cheiros de erva fresca e terra em estado puro. Dos verões quentes como tudo e a chuva a pentear a serrania, a lavar o musgo das casas de pedra. Dos casarões fidalgos e dos seus brasões indecifrados. De toda aquela ingénua e natural beleza que encanta pela réstia pura das tradições e dos traços de personalidade destas gentes.

No entanto escasseia como espécie em vias de extinção. Tudo isto, no entulho obcessivo do desenvolvimento cinzento. Basta descer aquela avenida, de Sá Carneiro (salvo o erro), que atravessa as traseiras do mosteiro e ver como se enclausura o monumento à força do crescimento desenfreado. Dos edifícios, dos muitos que se extendem até à Freita a crescer como numa estuda de morangos encardidos, conhecem-lhe os preços exorbitantes, mas da qualidade muito pouco. Tudo à custa do esvaio das aldeias em redor. É o custo pela melhoria das condições de vida(?), pelas escolas e pelos bares, pelo comércio e indústria - tolhidos!, pela proximidade ao emprego e às suas agências.

Não tarda nada, e a toda a força para coroar o regime, está a vila tornada cidade, com tudo esquisso em derredor, em desfavor de uma evolução sociocultural e económica coerente e sustentada, em equilíbrio com todo o concelho. É esta desnaturação galopante que, associado aos vícios provincianos e aos poderes públicos demasiado metidos no quotidiano das pessoas e os partidários demasiado metidos nas picardias entre si, torna o futuro do concelho uma desencantada incerteza.

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