As Unidades de Saúde Familiar (USF's) são uma das melhores decisões políticas em Saúde do actual executivo. Venha quem vier, do alto da sua dor cotoveliana, ou por puro queixume. O exemplo na prática, e quem o tem vivido como eu, é incrivelmente positivo e inovador num país de hierarquias, de algum modo, ou por dinheiro, ou por academia, ou por fidalguia.
Basicamente, e em linguagem de corridinho, é um aglomerado espontâneo de profissionais da saúde, médicos, enfermeiros e gente da secretaria em torno de objectivos propostos e devidamente acordados com o Ministério da Saúde, nas suas delegações regionais, tendo em vista o cumprimento de determinados ganhos em saúde com os doentes sob alçada e consequentemente na saúde comunitária. No funcionamento em equipa, todos com igual voto na matéria, nas estratégias, na responsabilidade, nos direitos e deveres, na formação contínua e na avaliação. Coisa moderna e blasfema num sistema paternalista, centralizado mas que é bom exemplo do que a autonomia oferece quando bem remunerada e regulamentada. E nos salários está parte do âmago. Estes profissionais numa USF ganham sensivelmente o dobro do que num Centro de Saúde convencional, mas oferecem-se de bandeja à causa pública.
E se calhar, vai aí a diferença entre o que deve compensar o Estado quando os seus trabalhadores se lhe entregam de alma e coração e os que, sempre renitentes a reformas, continuam agarrados ao pote sujo e redondo da promiscuidade entre público e privado.
Basicamente, e em linguagem de corridinho, é um aglomerado espontâneo de profissionais da saúde, médicos, enfermeiros e gente da secretaria em torno de objectivos propostos e devidamente acordados com o Ministério da Saúde, nas suas delegações regionais, tendo em vista o cumprimento de determinados ganhos em saúde com os doentes sob alçada e consequentemente na saúde comunitária. No funcionamento em equipa, todos com igual voto na matéria, nas estratégias, na responsabilidade, nos direitos e deveres, na formação contínua e na avaliação. Coisa moderna e blasfema num sistema paternalista, centralizado mas que é bom exemplo do que a autonomia oferece quando bem remunerada e regulamentada. E nos salários está parte do âmago. Estes profissionais numa USF ganham sensivelmente o dobro do que num Centro de Saúde convencional, mas oferecem-se de bandeja à causa pública.
E se calhar, vai aí a diferença entre o que deve compensar o Estado quando os seus trabalhadores se lhe entregam de alma e coração e os que, sempre renitentes a reformas, continuam agarrados ao pote sujo e redondo da promiscuidade entre público e privado.
Já agora, para quando uma USF por Cabeceiras de Basto?
2 comentários:
Ora cá está tudo, aquilo que devemos saber sobre USF's!Realmente vivemos num país a duas velocidades. E na questão da súde, então ainda é mais grave.Sr.Dr. Pimenta, de facto, o projecto de USF's na forma não está mal pensado, o problema é no conteúdo, eu também falo por experiência, apenas gostaria que me respondesse às seguintes questões:
1ª- Será que a saúde das pessoas deve ser tratada como números e cifrões economicistas?
2ª- porquê um médico deve ganhar o dobro do salário só porque muda a forma de tratar doentes?
3ª- Que mais valia trás para os doentes um sistema que pode obrigar o médico a fazer contenção no tipo de medicação que o doente toma (Exmp. Um doente Diabético)dado que, hà objectivos financeiros a cumprir com medicação?
4ª- cada médico só pode ter até cerca de 1800 doentes em ficheiro, se o médico tiver 2800 num C.S. mil poderão ficar sem médico; isto aconteceu por exemplo em Vizela! se os critérios são realmente só financeiros o médico escolhe os doentes que ficam mais baratos à USF; Certo?, e os outros vão ou não continuar a ficar caros ao Estado?
5ª- como deve saber, o governo colocou a "Cenoura" em Frente aos médicos; só que, bastante alta, a nivel nacional só existe uma USF em RRE (Regime REmuneratório Experimental)que é em Fafe, todas as outras estão num nivel A (nivel em que os médicos ganham a mesma coisa) mas para passarem ao Nivel B(RRE em que vão ganhar o dobro) têm de cumprir um Vasto Leque de Objectivos, desde tipos especificos de consultas, Gastos com medicação, exames complementares, tempos por consulta ETc...Etc..a minha questão: porque será que tantos médicos já abandonaram as USF's?
para terminar: dizer que os médicos se importam com a causa pública não é uma afirmação honesta. porque o que os leva a aderir é simplesmente é uma "autonomia bem Remunerada, se possivel em dobro, o resto são os doentes que pagam. Encerramento de atendimentos 24 horas, cuidados primários insuficientes, aumeto do tempo de espera por proxima consulta, etc..etc...
Meu caro, anónimo, tenho todo o prazer em responder-lhe às perguntas, porque apesar de tudo sou um optimista ou pelo menos, assim ando. Bem:
1º Infelizmente neste mundo, não se pode contar em feijões nem batatas. É da cor do dinheiro tudo. E, mais lhe pergunto, critérios economicistas? Bem economia quer dizer basicamente, fazer mais com menos. E sabe bem que é possível, se as coisas forem devidamente regulamentadas. Há é uma falta de cultura de gestão de recursos na classe médica/ou de saúde, para não falar em desleixe. E não é só um fundo de economia é também, ambiental, saber gastá-los em devida medida, de modo a que não sejam desviados de coisas igualmente ou mais importantes e que o SNS não oferece.
2º Sabe perfeitamente que o médico que se dedica em exclusivo ao sector, num regime de flexibilidade com colegas e com o quotidiano diários das pessoas, deve ganhar bem porque é também incentivo à produtividade e a essa mesma flexibilização. Por outro lado, por muito humanismo que queira por na coisa, sabe perfeitamente que a maior vocação dos estudantes de medicina e médicos, neste país como nos Estados Unidos, é o estatuto e as contrapartidas da profissão, por muito apaixonado que lhe pareça o mundo, e aliás até parece que concorda comigo quando fala da atracção da “autonomia bem remunerada”. Digo-lhe que às vezes chego a pensar, que a selecção vocacional só se faz pelo nojo a unhas encravadas ou a sangue. No mesmo sentido, a falta de médicos nos cuidados primários, que deviam ser a aposta primordial de um Serviço Nacional de Saúde, está no retorno financeiro limitado que possibilita ao invés de uma daquelas especialidades com aparente toque de Midas. E acho sim, que os médicos de família devam ser muito bem pagos e incentivados, porque para lá da responsabilidade tem de se manter devidamente actualizados cientificamente e serem sobretudo disponíveis para a comunidade. Ponto!
3º A contenção na prescrição, e está a ser demagogo, não afecta os doentes crónicos. Os diabéticos, como outros, não são abarcados por este cuidado porque precisam deles. Por outro lado já ouviu falar em sobremedicação? Gente que é medicada com mais de quantos medicamentos, e alguns deles a intereagir uns com os outros e em prejuízo para o doente? Se calhar isto obriga a um melhor cuidado dos médicos na ponderação da terapêutica. Para não falar na prescrição desenfreada de muitos exames complementares caros que não servem de nada, repetidos umas quantas vezes por ano e com os prejuízos maiores no erário público, e que resultam de pura negligência científica por parte de alguns profissionais médicos. E esse esforço custa a alguns, que preferem o seu cantinho de laissez-faire a vaguear horas entre o consultório no C.S. e na clínica na rua ao lado. (e aqui também respondi à sua pergunta 5)
4ª Os 1800 utentes/médico como deve compreender, é um número razoável e ainda que ache exagerado. E 2800 então é uma vergonha porque negligencia completamente os cuidados como devem ser prestados, e que não é na visão que aparentemente tem dela, como curativa na parcimónia aflita das “urgências 24 horas” restringindo a actividade do médico de família, que também é o primeiro pilar do sistema.
E se calhar é por estas e outras chatices que alguns médicos abandonaram as USF’s. Porque os obriga a ser realmente médicos de Clínica Geral e Familiar, com dedicação à comunidade e a educá-la na sua Saúde.
E mais, não vejo porque é que um centro de saúde, sem qualquer capacidade de resposta a verdadeiras urgências/emergências tem de manter o estaminé aberto 24 horas só porque o cacique local quer vender votos e a perguiça mental exige. É um desvio perigoso, e nesse aspecto como nalguns outros, a equipa do Ministério da Saúde, desde Correia de Campos, tem muita razão.
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