A 15 de Janeiro de 1949, chegava o comboio a Arco de Baúlhe (Cabeceiras de Basto) completando assim o traçado final - ainda aquém do previsto, com ligação à linha de Guimarães - da malograda linha do Tâmega. Permaneceu activa, em toda a sua extensão, até 1 de Janeiro de 1990 servindo as populações da Região de Basto e Baixo Tâmega. Apenas durante 40 anos.
Por essa altura, alegadas razões economicistas, na trela do prejuízo e da viabilidade - em critérios que, por aí, fechavam a Metro do Porto e Lisboa, a Carris, a CP per si, a TAP e a STCP - impostos pelo paradigma do cavaquismo, é amputado o troço entre Amarante e Arco de Baúlhe. Na verdade, a CP já vinha deteriorando a qualidade do serviço dando azo à insatisfação dos utentes, que entretanto iam enchendo - curiosamente - os autocarros (ou caminetes) da Auto-Mondinense. Mas cedo se fartou também o povo do cu tremido nas curvas arrepanhadas de uma estrada 210 com uma variante prometida há 30 anos de caminho. A partir daí, e apesar da Região de Basto timidamente acompanhar o desenvolvimento do país, definhou-se toda uma dinâmica sociocultural e económica e, com ela, desligou-se a região como um todo. É incontornável.
Restam agora as ruínas enferrujadas dos carris e as traves comidas pela humidade. Em algumas partes já a natureza lhe ocupou o percurso, em lama, mato e árvores. O Complexo da Estação Terminal, em Arco de Baúlhe, com um espólio ferroviário invejável, foi excelentemente requalificada pela Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto e transformada no Museu das Terras de Basto. O troço vai ser reconvertido numa ecopista/ciclovia que podendo tender para o abandono a que foi votado um equipamento semelhante entre Fafe e Guimarães, preserva ainda assim o trajecto da Linha do Tâmega. A imperiosidade da sua reabertura há-de colher argumentos com o tempo. Um deles: o nevão que cobriu a Lameira e arredores, que muito bem podia ter sido contornado por comboio [Braga - Porto - Arco de Baúlhe], já que a A7, pelos vistos, não trouxe esse milagre à mobilidade.
4 comentários:
Meu caro, para argumentos empresto-lhes eu alguns, não precisa de esperar mais! Já há anos (e conto apenas 24 Primaveras) que sigo a temática das Vias Estreitas do Douro, e a Linha do Tâmega tem sido um caso, sem ofensa, interessante. Basta recordar o célebre episódio do vazamento de entulho por máquinas camarárias de Celorico de Basto, denunciado num fórum ferroviário onde participo, que fez com que algumas pessoas, eu inclusive, deixassem no fórum do site dessa mesma Câmara mensagens de desagrado pela forma como a Linha está a ser tratada. No dia a seguir, TODAS essas mensagens tinham sido retiradas do fórum. A censura fascista de volta às Terras de Basto, 3 décadas depois do 25 de Abril.
Mas falava eu em ajudar, e por isso vou-lhe enviar alguns dados curiosos, que até lhe peço o favor de divulgar o mais que possa. Numa pesquisa pela Internet, recolhi alguns dados sobre ciclovias versus caminho-de-ferro, fiz alguns cálculos, e os números são desconcertantes. Senão veja:
1- A FEVE (Ferrocarriles de Via Estrecha) gere em Espanha 1200km de Vias Estreitas, 300km deles electrificados. Comprou recentemente 120 novos vagões de mercadorias (16 M€), 12 novos comboios (49 M€) capazes de atingir os 120 km/h, gere 8 comboios históricos (Portugal inteiro só tem 2) sendo um deles o Transcantábrico, o mais antigo e luxuoso da Península Ibérica, e REABRIU em 2003 uma linha encerrada em 1991 com 340 km de extensão;
2- Reabrir 340 km de VE em Portugal seria o equivalente a reabrir a Linha do Tâmega (40 km encerrados), do Corgo (71km encerrados), do Tua (76km encerrados), do Sabor (105km encerrados), do Douro (28km encerrados), e com os restantes quilómetros quase que se ia de Bragança à Puebla de Sanábria, almejada meta para a Linha do Tua;
3- Esta reabertura ficou orçada em 42 M€, ou seja, um custo de € 123.500/km. A ciclovia do Sabor está a custar € 125.000/km, mais renda anual de € 10.000 paga à REFER. É utilizada maioritariamente pelos locais, ou seja, representa gastos residuais ou nulos em Turismo, e trata-se tão só de um caminho de terra batida, que demais a mais já existia: era o canal descarnado da Linha do Sabor. Trocado por miúdos, gasta-se mais a ter uma ciclovia sem retorno de investimento, do que reabrir uma via-férrea;
4- Um plano de reabertura de parte da Linha do Sabor, feito em 1995, ficou orçado em 30 mil contos, a dinheiro de hoje seria € 6.500/km. Na altura a CM de Torre de Moncorvo achou incomportável, algo que hoje em dia não acha de € 125.000/km mais renda anual de € 10.000. E a tudo isto o QREN sorri, financiando generosamente projectos sem nenhum futuro.
Como vê, é tão fácil desmontar este erro crasso de estratégia de mobilidade e Turismo que são as ciclovias!
Entre a sociedade de Baúlhe e de Basto não há uma noção real do valor matrimonial e simbólico do comboio, da infra-estrutura que o comporta e do museu que os exorta.É preciso valorizar e divulgar este bem, que é o objecto de maior representação simbólica que esta vila já viu e alguma vez verá. Auto-estradas (nós de acesso) e consequentes vias rápidas de acesso, nada valem comparativamente a este monumento.
É tempo de perder o medo, e de uma vez pensar na reabilitação do comboio em Portugal: Como se percebe (e bastará ler as palavras do Daniel Conde, ali em cima), e como sempre, «lá fora» há muito se percebeu que o comboio é o «presente». Para nós, portugueses, continua a parecer um futuro hipotecado!
Sim à reabertura das Linhas infamemente encerradas, sem «consulta pública», sem apelo nem agravo...às vezes de noite!...
Caro Vítor,
permita-me discordar de um pequeno pormenor que referiu. Não me parece que a pista de cicloturismo Fafe-Guimarães esteja ao abandono. Já lá foi a um Sábado ou Domingo? Certamente não, se não a sua opinião seria outra. Sendo de Fafe, eu também gostaria de ainda ter comboio para Guimarães, mas considero que a adaptação do traçado para pista de cicloturismo foi bem conseguida. É no entanto necessário que a Autarquia de Guimarães conclua o traçado até ao Multiusos, como está programado, e que resolva os problemas graves de saneamento que existem em algumas partes do trajecto.
José Pedro
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