No estudo de impacte ambiental que se encontra concluído e em fase de discussão pública, a forma de aferir a adesão das comunidades locais à construção da barragem, segundo a empresa autora do estudo, que lhe foi encomendado pela EDP, «combinou metodologias qualitativas e quantitativas. A abordagem qualitativa traduziu-se na análise de 9 blogues na Internet e na realização de 25 entrevistas, telefónicas e presenciais, aos actores locais, incluindo presidentes de câmara municipal e de junta de freguesia. A metodologia quantitativa traduziu-se na aplicação de questionário estruturado a uma amostra de 520 pessoas...»
Os inquéritos foram realizados com a seguinte distribuição:
« - 55% em Amarante, 13,3 % em Ribeira de Pena, 12,3 % em Mondim de Basto, 10,2 em Celorico de Basto e 9% em Cabeceiras de Basto”;
- “A amostra abrangeu maioritariamente pessoas do sexo feminino ( 64,8% ), com mais de 55 anos ( 54,4% ) e com instrução igual ou inferior ao 1.º ciclo do ensino básico (66,3%).»
Os resultados foram os seguintes:
» – As opiniões expressas nos blogues veiculam uma opinião sistematicamente negativa;
- As posições obtidas em entrevistas a actores-chave veiculam uma posição predominantemente positiva;
- Os resultados do inquérito estruturado revelam uma posição dividida, em que os inquiridos em Celorico, Mondim, Cabeceiras e Ribeira de Pena manifestam posição maioritariamente positiva e os de Amarante maioritariamente negativa.»
Por mim, estou esclarecido:
- nos blogues, em principio, e por dedução meramente pessoal, os tipos têm menos de 55 anos , têm mais do que o 1.º ciclo de escolaridade e, provavelmente, as mulheres que deles fazem parte têm também menos que 55 anos e mais que a escolaridade ao nível do 1.º ciclo;
- Os actores- chave, manifestaram opinião favorável, o que em meu entender pressupõe, que eles consideram que a construção da barragem de Fridão é uma “chave” para o desenvolvimento do nosso território;
- Finalmente, e em jeito de declaração de intenções, declaro, para os devidos efeitos, que fui inquirido (portanto faço parte da amostra e na percentagem de inquiridos que se mostrou desfavorável), que de sexo sou masculino, que tenho menos que 55 anos, que tenho mais que o 1.º ciclo de escolaridade e que não sou de Amarante.
Se pudesse, promovia um inquérito à juventude (de Basto) que é como dizer ao principio das gerações futuras : quem vai ficar sem o rio Tâmega, a quem vai ser destruído todo um património histórico, ambiental e cultural .
(Fonte: EIA – Estudo de Impacto Ambiental – Aproveitamento Hidroeléctrico do Fridão)
Alfredo Pinto Coelho
5 comentários:
Quanto ao património histórico, que imagino que o haja, nunca vi da parte de ninguém qualquer preocupação em o divulgar, requalificar ou preservar.
Ambiental é por justiça da mãe natureza, porque na parte humana o que sempre vi foi desleixo; Nos resíduos, na preservação, nas encostas de eucaliptos etc. De cultural retenho a nostalgia sincera de quem lá passou inesquecíveis momentos da juventude. Os jovens lá farão os suas escolhas, no entanto, qualquer cenário se apresenta em termos de expectativas bem melhor que o actual (já agora do nosso passado recente)... a ver vamos.
Quando os ( muitos)homens não lutam, as pedras, as nossas pedras velhas, gritam !
da história :
Ponte em Mondim, construída em 1882
Ponte romano-medieval sobre o Cabril;
Capela do Senhor da Ponte;
Cruzeiro e fontanário na Ponte em Mondim;
Sete moinhos na Ribeira,Mondim;
Travessia da Chavelha, vilar de Viando, Mondim, ( rotas pré romanas e romanas);
Fraga amarela ( Pedra de culto), Mondim;
Vários troços de calçada romana que faziam parte da "estrada" que ligava Chaves a Favaios por Mondim;
Ponte de Cavez ( sec. XIII );
Ponte Pensil de Lourido, celorico;
Ponte de Arame ~em Ribeira de Pena;
Vários locais de travessia históricos :
- travessia das legiões romanas no séc. II AC;
- local de travessia do exército fran`cês nas invasões francesas ;
-Local de batalha travada pelo Terço das Milícias de Basto contra os invasores franceses;
Tanto e tanto mais !
Do património ambiental:
O Tãmega e toda a sua rede hidrográfica é "reserva ecológica nacional";
A bacia hidrográfica do Tâmega é " zona sensível";
O Rio Tâmega desde a confluência com a ribeira de Vidago a Mondim é " ecosistema a preservar "...
A bacia do Rio Tâmega é " zona protegida" , Lei Quadro da Água;
Tanto e tanto mais!..
Da cultura:
Basto e Tãmega são uno !
Alfredo Pinto Coelho
Ora aqui está, se fizer uma consulta de opinião aos jovens de Basto, assumindo o risco de me enganar, poucos inumerarão de carreirinha os sítios a que se refere. Não quero ignorar e respeito com sinceridade tais referências. Preocupa-me porém o facto de terem sido votadas ao abandono e ao esquecimento durante todos estes tempos. Que as pedras gritem
não me surpreende, já é um mal que vem de longe, porventura porque os (muitos)homens durante muito tempo assim se dispuseram. Se a barragem vier e a água cobrir irremediavelmente este património talvez esta morte amarga seja mais sensata que escondê-las vivas e mutiladas no esquecimento. Veja-se o pérfido estado dos moinhos da ponte de mondim, testemunho ímpar da história cultural e social da ligação ao rio das gentes mondinenses. A ponte de Veade amputada da sua razão de ser - o combóio-, os vários troços de calçada romana outrora gloriosos e desde há muito moribundos e ultrajados. As extracções ilegais de areia que tanto maltrataram o rio. A forma pura e dura com que os esgotos se atiram aos anos e anos directamente para as águas outrora cristalinas. Isto não indignava ninguém? Nem mesmo os (muito) homens?
Não podendo tratar pelo nome ( aparece anónimo) o senhor ou senhora que teve a amabilidade de comentar este meu artigo de opinião,não será por isso que deixarei de lhe agradecer a atenção dispensada e os seus comentários.
Permito-me, no entanto, e se ainda tiver paciência para me ler, referir o seguinte:
- "... um mal que já vem de longe...", plenamente de acordo;
- se não indignava ninguém ? cada um poderá falar por si.
Nos finais dos anos oitenta e início dos anos 90, sendo eu ainda jovem, mantive uma crónica no Jornal Monte Farinha, de Mondim, que se intitulava - A propósito de património. Aí alertava,dentro das minhas possibilidades,para a necessidade de salvaguardar, recuperar e promover património ( construído e ambiental)do meu concelho :
Uma crónica sobre a Ponte Romano-medieval no Cabril, que tinha parte das suas pedras (das bandas laterais) debaixo de água. Foi, passados alguns anos recuperada e continua a ser uma referência em Mondim;
Uma crónica sobre o monte da sr.ª da Graça a que intitulei - o Monte da minha condição - que começava, então, a ser objecto da destruição que até hoje assistimos;
Outras crónicas sobre património construído e sobre património (imaterial) que, no meu modesto entender, urgia também salvaguardar, potenciar e promover.Refiro-me ao (tal) cultural, que mencionei no artigo.
Não será relevante, mas poderei também lhe dizer que, enquanto cidadão, denunciei na praça pública a questão da extracção ilegal de areias e a questão da necessidade de travar a entrada ( pura e dura, como bem diz) dos esgotos no "nosso " rio.
Não tendo o direito de ser mais exaustivo, porque o que fiz só provavelmente à minha consciência interessa, foi de livre e espontânea vontade. Arriscando até, alguns dissabores.
Finalmente, quando no artigo me refiro à questão de ter curiosidade de saber qual a opinião dos jovens é, tão só, porque eles é que são o futuro.
E eu ( e tantos milhões de outras pessoas ), considero que o desenvolvimento não se faz sem respeito pela memória colectiva, sem "cuidar" dos ainda existentes valores ambientais e sem se demonstrar orgulho em sermos como somos .
Portanto, não posso concordar que se afogue " corpo e alma" da minha terra, ainda que alguma "doente";
E se ao menos fosse por uma boa causa ?...agora para valorizar empresas cotadas na bolsa; para atingir um dito " interesse nacional" em que não acredito, pois sou apologista de outras vias para lá chegar ;
para me retirar qualidade de vida e para prejudicar o futuro dos meus filhos ?
Não, obrigado!
Alfredo Pinto Coelho
Meu caro, no meu caso particular, dos outros não posso falar, o anonimato não tira nem acrescenta nada a esta questão. Mantenho a educação e o respeito que sempre me nortearam. Acrescento também, e julgo que o sentiu, que não se trata de qualquer tipo de questão particular. Aliás os meus comentários ao seu artigo revelam que tenho todo interesse em os ler e os debater. Acredite que para mim a questão da barragem é motivo de grande preocupação. Não me vendo à ideia da sua construção por "dá cá aquela palha" bem pelo contrário. Quero é ter o conhecimento e a certeza dos maleficios e benefícios que ela nos poderá trazer. São pessoas como o meu caro e, modéstia à parte, como eu que ajudam a avivar este debate. Quanto a sua preocupação antiga acerca do nosso património folgo em saber as atitudes que tomou. Repito que nunca quis nem quero pessoalizar esta questão. Acabo este comentário desejando para Mondim o melhor. E o melhor nem sempre é um caminho de sentido único.
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