© gay_art
Não me admira a insistência semântica em relação à questão do casamento civil alargado, por parte de alguns actores da política local (a carta, a resposta e a réplica são de aconselhável leitura) , de que guardo respeito, embora fosse expectável.
Digo semântica porque há esta obsessão em querer defender uma espécie de santuário legal agarrando-se na definição de casamento como entre "um homem e uma mulher". Isto, quando o delírio não vem com aquela variante etimológica, como se o verbo casar viesse de acasalar - o que não é de todo verdadeiro. São viéses normais no argumento de circunstância, de quem é simplesmente avesso a que uma relação entre dois homens ou duas mulheres se lhes equipare perante a lei (e o dicionário).
A verdade é que as palavras como os direitos não têm exclusivo nem são propriedade de ninguém, e as suas definições tão pouco são imutáveis. Fossemos por aí, e nesta deriva procriativa, "progenitores" aplicava-se a "avós" e não a "pais". Fossemos por aí e teríamos também de catalogar, com outro termo, o namoro entre pessoas do mesmo sexo. Isto sim seria arrogante, paralisante e ainda segregacionista - mesmo que se pense o contrário.
Aliás surpreende-me que o meu caro Francisco Fraga, um homem vindo da área legal, queira também enredar novas ambiguidades num código civil que devia ser o mais claro e inclusivo possível, nesta coisa de inventar sinónimos para o mesmo estado de conjugalidade em direitos, deveres e expectativas. Um pouco como querer que se chame "cimbalino" a uma "bica", só porque é café tomado por "outro tipo" de gente .
Por outro lado, a contrário do que se insinua, é evidente que o Estado não impõe, nem imporá, o casamento (nem estilos de vida) a ninguém. Tanto heterossexuais como homossexuais ou bissexuais continuam livres para não casar. E os mais preocupados com a santidade, procriabilide e inviolabilidade da sua união conjugal, têm os altares para elevar a coisa a sacramento e vestir a diferença que lhes alivie a alma de sufocos.
Deixem-me só acrescentar, o quão interessante é notar que quem implicou com a oportunidade do tema quer, ao mesmo tempo, arrastar a questão para um referendo. É vergonhoso que , quando sob o signo de uma "tolerância" e "espírito democrático", se quer promover uma campanha que há-de derivar para um sem-número de considerações e julgamentos sobre a integridade de pessoas com uma orientação sexual minoritária, sujeitando assim milhões de homossexuais, bissexuais, familiares e amigos, a um escrutínio de preconceito puro e primário.
A partir do dia 8 de Janeiro, e pegando no que disse Isabel Moreira (no jugular e ontem na SIC-N), «o Estado deixa de estar ao nível da ofensa gratuita». Não podendo «acabar com a homofobia, podemos acabar com a homofobia legal». Não é poder, é um dever.
5 comentários:
Eu, lésbica, diria no dia do meu juizo final que se Adão profanou a maça, então, ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão!
Bem, este tema está de tal forma esbatido que começa a ter um efeito de " sentido inverso " no que toca à defesa dos casamentos homossexuais. Isto porque aquilo que leio e vejo é uma argumentação, por parte daqueles que se arreiam em defensores dos autos denominados "homo", que lhes custa a admitir ou tolerar quem não alinhe com uma precisão nanométrica pela mesma bitola. Daí eu entender que o fundamentalismo de alguns pro casamento homo em nada beneficia quem, de uma forma serena e pacífica ( e inteligente, refira-se )se assume e reinvidica o casamento de uma forma natural, sem extremismos, que é e sempre será a defesa dos mais fracos de argumentação.
Mais uma vez refiro que eu, sem opinião formada sobre o assunto, aceito com toda a naturalidade o casamento entre pessoas do mesmo e até que materialmente ( receita fiscal )é bom para o país!
O que Isabel Ribeiro referiu, na SIC Notícias, apenas é mais do mesmo, com tanto que já se disse.
Parece que alguns parecem fazer desta questão ( que merece o máximo respeito )um palco político! E é-o de facto, pois actualmente, este tema se tornou tão populista e tão fácil de verbo e argumento que poderá, a todo o momento, dar origem a uma música do Quim Barreiros!
Respeitemo-nos e toleremo-nos!
Que assim Seja Sr. Daniel.
Numa anarquia perfeita, que, se fosse viável, resultaria na harmonia social, sem distinções de qualquer espécie,nem sequer seria necessário haver a figura jurídica de "casamento"entre ninguém.
Bastava a vida em comum, bastava haver uma solidariedade voluntária e deixaria então de ser necessário fomentar o preconceito, porque este foi potenciado pelos homens e mulheres que evoluíram civilizacionalmente para o bem, mas também para o mal...
E perde-se tempo com a mesquinhez, enquanto gente sofre de carências básicas!
Abraço
Meg
Meg.
Não podia estar mais de acordo.
Abraço
Enviar um comentário